30 DE JANEIRO DE 2014
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Mas deixe-me dizer-lhe, Sr. Deputado, que não nos parece avisado — e o CDS tem, sobre essa matéria,
uma posição coerente — legislar sobre acontecimentos recentes. Por isso, entendemos que se deve deixar à
justiça aquilo que é da justiça e ao poder legislativo aquilo que é do poder legislativo.
Porém, devo dizer que isso não nos impede de fazer uma avaliação de um conjunto de matérias que já
existem e que ainda agora foram explicitadas. Assim sendo, amanhã mesmo, haverá uma reunião entre o Sr.
Ministro, as associações académicas e as instituições do ensino superior. Portanto, parece-me avisado ter um
olhar atento a estas questões.
De qualquer maneira, algo que para nós também é importante é o respeito pela autonomia das instituições
de ensino superior e até, deixe-me dizer-lhe, Sr. Deputado, o respeito pelas tradições de algo que tem para os
estudantes e para a academia um valor inalienável.
Em suma, Sr. Deputado, para nós, como lhe disse, é o momento de avaliar, é o momento de estar
disponível para evitar excessos, mas é também o momento para respeitar a autonomia. Ora, gostava que o
Bloco de Esquerda, sobre essa matéria, dissesse se é esse o entendimento que tem. Pareceu-me dizê-lo na
sua intervenção inicial mas depois não ficou tão claro na intervenção seguinte.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Hélder Amaral, o Bloco de Esquerda entregou,
hoje, na Mesa da Assembleia da República um projeto de resolução. Não tencionamos legislar neste
momento, por duas razões: em primeiro lugar, não queremos legislar sob a suspeição de que estaremos a
legislar em cima de um caso concreto, e, em segundo lugar, exatamente porque, existindo a autonomia
universitária, todo o processo tem de ser contratualizado com a comunidade académica. Portanto, isso obriga
a um determinado processo que o Bloco de Esquerda já cumpriu e no qual continuará ativo.
Entretanto, deixe-me dizer-lhe que há uma década que o Bloco de Esquerda vem apresentando um
conjunto de projetos de resolução tendentes a atacar este problema, que não é um problema de extremismo,
não é um problema de tendências agressivas em circunstâncias que poderiam ser absolutamente inocentes.
Não há nenhuma tradição, em Portugal, acerca das praxes académicas. Há factos que têm ido e vindo ao
longo da história. Durante décadas, em Portugal, praticamente não houve praxes. As praxes regressaram há
cerca de 20 anos, e com um grande impulso das escolas privadas que, entretanto, abriram.
Protestos do Deputado do PSD Duarte Filipe Marques.
É fácil consultar todas as investigações acerca dessa matéria. Não há nenhuma tradição contínua acerca
de praxes, elas têm ido e vindo. Aliás, curiosamente, já no século XVIII, davam problemas aos poderes
instituídos.
Portanto, tudo isso tem tido vários ciclos. Não vale a pena reclamar questões tradicionais onde inexistem
tradições ou quando elas não foram continuadas ao longo do tempo.
Agora, o que devo dizer — e isso é que parece importante — é que as praxes existem e existirão. O
problema é que a escola não pode ser neutra em relação à existência de praxes. Uma coisa é punir os ilícitos
criminais ou disciplinares, mas outra é a escola ser neutra e achar que tanto faz que haja praxes estúpidas,
mesmo inócuas, ou não haja. Isso é que a escola não pode fazer. E uma escola que se quer de excelência,
uma escola que se quer crítica, uma escola que se quer portadora de futuro para este País não pode pactuar
com praxes imbecis — e este é o ponto que deve ser abertamente debatido.
Os pais, quando enviam os seus filhos e filhas para a universidade, devem ter a garantia absoluta de que
eles não estão a ser humilhados ou até de que a sua integridade física e psicológica não está a ser posta em
causa. E falta muito aos poderes públicos para não serem neutros nesta questão e para difundirem uma
cultura democrática. Não vale a pena vir aqui fazer uma pose um pouco seráfica — cada um e cada uma que
o queira fazer — e dizer: «Vamos arranjar um código de boa conduta». Não, não há códigos de boa conduta
para aquilo que, implicitamente, é uma péssima conduta.