13 DE MARÇO DE 2014
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É bom que reconheçam agora, ainda que tardiamente, olhando para nós: «Os senhores, afinal, tinham
razão quando alertavam para as consequências a que este processo de construção europeia poderia
conduzir».
Efetivamente, os senhores não podem pôr-se de fora deste processo. Diria que seria bom que os partidos
socialistas, inclusivamente o Partido Socialista, em Portugal, fizessem o que dizem e não fizessem o que
fazem quando têm a possibilidade de fazer, quando estão no Governo.
Lembro-me, há uns tempos, das grandes esperanças que os senhores depositavam na vitória do François
Hollande, que diziam que ia mudar completamente a face da Europa e as políticas europeias. Não mudou
absolutamente nada, nem na Europa, nem em França, e, Sr. Deputado, em França, se mudou, foi para pior,
infelizmente!
Depois, tinham esperança na eleição alemã, no sentido em que, finalmente, a Sr.ª Merkel iria — permita-
se-me a expressão — ser posta na ordem e as coisas iam mudar de rumo. Não mudaram! Está o SPD no
governo com a Sr.ª Merkel. O que é que mudou na política da Alemanha em relação à Europa? Não mudou
rigorosamente nada, Sr. Deputado!
Portanto, quando o Sr. Deputado diz que há duas visões opostas sobre a Europa, há sim, Sr. Deputado,
mas a oposição não é entre os partidos socialistas e sociais-democratas e os partidos do Partido Popular
Europeu.
As duas visões que há sobre a Europa são daqueles que, como nós, entendem que devemos estar na
Europa para defender os interesses de Portugal, do povo português e dos países economicamente mais
frágeis da Europa, e daqueles que querem estar na Europa para fazer discursos muito piedosos a dizer que é
preciso mudar muitas coisas, que o caminho que a Europa tem vindo a seguir é um caminho mau, mas,
depois, na prática, absolvem as causas que conduziram a essa situação.
Termino com uma questão muito concreta, Sr. Deputado. O Partido Socialista aceitou o tratado orçamental
nesta Assembleia e sabe as consequências que daí decorrem. Pergunto se os Srs. Deputados não acham que
ao aceitarem este tratado orçamental, que condena à austeridade os povos da Europa, designadamente o
povo português, não estão, no fundo, a dar razão à conceção exposta pelo Sr. Presidente da República,
Aníbal Cavaco Silva, quando diz que estamos condenados a pelo menos mais 20 anos de austeridade.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP):— Termino de imediato, Sr.ª Presidente.
O Sr. Deputado não acha que, ao aceitar o tratado orçamental, como aceitou, o Partido Socialista está a
aceitar a condenação do povo português a uma brutal austeridade para as próximas duas décadas e meia?
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mónica Ferro, pelo PSD.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mónica Ferro (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Soares, creio que acabámos de assistir
ao lançamento da campanha do PS para as eleições europeias. Um PS que acredita que a União Europeia é
uma comunidade de segurança, um PS que acredita que é uma zona de prosperidade, um PS que acredita
numa zona de bem-estar, ou um PS que é profundamente antieuropeu, um PS que recusa, que renega todo o
contributo que deram, desde Mário Soares a António Guterres e a José Sócrates, e todo o empenho que
tiveram na construção deste modelo europeu que nós temos em vigor, um PS que não é do PSE (Partido
Socialista Europeu), que não está ao lado do Hollande, que não está ao lado do governo de coligação da Sr.ª
Merkel. Portanto, que PS é este?
De facto, ouvindo a sua exposição, Sr. Deputado, ficamos com a impressão de que a primeira medida que
o PS vai propor no próprio Parlamento Europeu é a do desmantelamento de todo o processo de construção
europeia. Achámos que íamos ter em vós um aliado forte para a construção de uma união bancária credível,
que permitisse fazer face a alguns problemas que o euro tem encontrado, mas, afinal, não. Afinal,
encontramos, em simultâneo com a denúncia de um radicalismo, um apelo à radicalização.