I SÉRIE — NÚMERO 60
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No Centro Hospitalar do Algarve faltam fraldas para doentes, que são substituídas por toalhas com sacos
de lixo; não se realizaram biopsias à próstata durante quatro meses por falta de agulhas e reduziram-se as
cirurgias por falta de anestesistas.
Adiam-se cirurgias no Hospital de São José porque não há capacidade de internamento.
Infelizmente, Sr. Secretário de Estado, não são casos pontuais, como os senhores pretendem fazer crer, e
bem sabem que não são!
O não tratamento atempado e adequado dos utentes coloca em causa a sua saúde. Como o PCP tem
vindo a denunciar, a política do Governo está a conduzir à morte prematura de muitos portugueses, que
podiam viver mais anos com qualidade de vida.
É este o êxito da sua política de saúde? É este o entendimento de garantia do acesso à saúde aos
portugueses? São estes os sinais positivos que o Governo tem para apresentar aos utentes?
Para o PCP é muito claro: não é compatível a garantia do direito à saúde com esta política! Assegurar o
direito à saúde em pleno só é possível com a derrota desta política e deste Governo.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Como o Sr. Secretário de Estado pretende responder em conjunto,
dou a palavra à Sr.ª Deputada Catarina Marcelino, para pedir esclarecimentos.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado, não consigo compreender
para quem é que os senhores estão a falar e de que é que estão a falar, porque os senhores falam de uma
realidade e quando vamos aos locais verificamos outra realidade!
A realidade do Serviço Nacional de Saúde em Portugal é, neste momento, preocupante. É uma situação
que preocupa os portugueses e as portuguesas que vão ao Serviço Nacional de Saúde e não encontram
resposta: unidades de cuidados continuados que não abrem, extensões de saúde que estão fechadas,
pessoas que não têm médico de família. Estamos a regredir à década de 80! Ora, regredir à década de 80 não
é aceitável num país do século XXI.
Aplausos do PS.
Sr. Secretário de Estado, gostava de lhe fazer algumas perguntas concretas.
Disse que abriram 14 centros de saúde e nove extensões de saúde. E eu pergunto: quantas fecharam?
Dou-lhe o exemplo da extensão de saúde da Trafaria, que fechou, e da extensão de saúde da Costa da
Caparica, que está a rebentar pelas costuras, sem resposta para as pessoas, e ainda o do Hospital Garcia da
Horta, que tem gente à espera nas urgências, com fitas azuis e verdes horas a fio. Gostava, pois, Sr.
Secretário de Estado, que me dissesse, concretamente, quantas extensões de saúde fecharam. Diga-me,
concretamente, quantos hospitais estão sem reforço nas equipas das urgências e em que os profissionais de
saúde estão todos os dias a dar o seu melhor e a trabalhar com dificuldades.
Sr. Secretário de Estado, relativamente às unidades de cuidados continuados, gostava de lhe perguntar
quando é que abrem as 17 unidades que estão prontas e fechadas, financiadas também com dinheiro público.
O próprio Presidente da União das Misericórdias Portuguesas veio alertar para esta questão. As unidades
estão fechadas e não abrem. No ano passado abriram 10, estão 17 por abrir, pelo que lhe pergunto, Sr.
Secretário de Estado, quando vão abrir.
Essas unidades são fundamentais para libertar camas nas enfermarias dos hospitais e permitem que
pessoas que estão nas urgências, muitas vezes em macas, tempo a fio à espera, possam ter camas
condignas nas enfermarias dos hospitais.
Sr. Secretário de Estado, os senhores podem vir aqui pintar de cor de rosa o filme que entenderem
relativamente ao Serviço Nacional de Saúde. Tendo em conta a pergunta feita pela Sr.ª Deputada do CDS ao
Sr. Deputado do PSD, até gostava de perguntar ao Governo e à maioria se os senhores fazem reuniões de
autoconvencimento. Os senhores pensam que é assim que convencem um País, cujos serviços de saúde não
dão resposta e em que pessoas idosas que estão em casa não têm transportes para ir aos serviços de saúde