I SÉRIE — NÚMERO 60
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cirurgias programadas, mais 9,5% de consultas médicas, mais serviços em cardiologia. E isso, no final do dia,
é o que verdadeiramente conta.
Independentemente da necessidade de todos conseguirmos um rumo de eficiência no Serviço Nacional de
Saúde, as nossas unidades de saúde continuam a dar uma resposta, continua a haver acesso e esse acesso,
como demonstrei na minha intervenção inicial, é de qualidade.
Aplausos do PSD.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Guilherme Silva.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Os
senhores vão repetindo à exaustão essa verdade oficial da direita que diz que o País está muito melhor.
Os senhores falam e governam, de facto, a pensar nos mais ricos e poderosos, que continuam a ganhar
com o empobrecimento do povo português. Para esses, talvez seja verdade que o País esteja melhor, talvez
até eles digam que isto nunca esteve tão bom, mas vão perguntar aos trabalhadores, aos reformados, aos
micro e pequenos empresários, aos agricultores, aos pescadores deste País! Perguntem aos reformados se
estão melhor com estes cortes nas pensões ou aos trabalhadores do sector público, confrontados com um
esbulho nos salários ainda maior do que antes e a pagarem, cada vez mais, por bens e serviços essenciais.
Desde 2011, quando os senhores tomaram posse, aumentaram cinco vezes os preços dos transportes. Já
vai em 26% de aumento em três anos, fora o efeito da extinção dos passes para estudantes 14_18 e sub23 ou
dos passes para reformados.
As tarifas da eletricidade, pelo sétimo ano consecutivo, voltaram a aumentar acima da inflação. Para muitas
famílias e para pequenas empresas, os aumentos não foram os 2,9% anunciados, foram antes de 8, ou 9%,
ou mais! O aumento acumulado é de 14% em sete anos, mas com o aumento do IVA, que os senhores
aprovaram — passou de 5 para 23% —, então, o agravamento do preço final foi muito maior.
Nos bancos, a situação é infame, com as pessoas e as pequenas empresas a serem esmagadas. A
comissão média para uma conta de 250 euros terá aumentado mais de 40% em seis anos. Para as MPME,
(micro, pequenas e médias empresas), há uma quebra continuada do financiamento. A banca vai espremendo
a nossa economia, apesar dos milhões que encaixou do Orçamento do Estado, como voltou a acontecer,
recentemente, com mais 510 milhões de euros que o Governo deu para cobrir as operações de lixo tóxico do
BPN.
Quando os Srs. Membros do Governo e os Srs. Deputados fazem esse discurso é certamente a pensar
nestes banqueiros ou nos patrões da grande distribuição, que sobem no campeonato dos milionários com os
milhões que «amassaram» dos seus trabalhadores, dos pequenos e médios produtores, dos contribuintes.
Para esses milionários, o País está certamente muito melhor.
Estará melhor o País de quem enriquece na Bolsa de Valores, onde as ações dos CTT, privatizados em
dezembro, já valorizaram mais de 31% e onde os lucros aumentaram 70%, para 61 milhões de euros, sendo
que desses 60 são distribuídos em dividendos.
Entretanto, no Vale da Amoreira, esta terça-feira, quem fosse levantar a sua pensão, a sua reforma, saía
dos correios com «as mãos a abanar» porque não havia dinheiro. De facto, para o Deutsche Bank e para o
Goldman Sachs, Portugal estará muito melhor, mas para os utentes dos CTT, para os trabalhadores e para o
povo a realidade é outra.
Por isso, reafirmamos que o País são as pessoas que aqui vivem, mais as pessoas que daqui saem,
porque os senhores as expulsam, porque o País é feito por quem trabalha, por quem trabalhou uma vida
inteira, por quem quer trabalhar mas não tem emprego, por quem estuda e vê o futuro adiado.
Os senhores dizem que o País está melhor porque pensam que o País se habitua à pobreza, à emigração,
ao abandono. Estão enganados! O País há de ficar muito melhor, sim, porque os senhores e a vossa política
serão derrotados pela luta de quem se recusa «a comer e a calar».
Aplausos do PCP.