I SÉRIE — NÚMERO 62
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No entanto, o Presidente da República subestima um elemento fundamental: é que não é ele a datar o fim
dessa austeridade, dos sacrifícios. Quem pode determinar isso é o povo português, e não o Presidente da
República, este Governo ou possivelmente qualquer um de nós.
Mas, falando do novo ciclo — e ainda ontem um ministro do seu Governo falou do novo ciclo —, é capaz de
nos explicar, Sr. Primeiro-Ministro o que é isso da mudança, o que é isso do novo ciclo? O que é que vai
mudar na vida dos portugueses, na vida daqueles que têm feito tantos e tantos sacrifícios forçados nas suas
reformas, nas suas pensões, nos seus impostos, no seu direito à saúde, no direito à educação e à proteção
social? Que mudança é essa? Que novo ciclo é que vai ser aberto? E, sim ou não, afinal, é o Presidente da
República que tem razão, condenando os portugueses a uma pena prolongada de 20 anos de austeridade, ou
esse novo ciclo, essa mudança vai ter significado e substância na vida das pessoas?
Dizemos isto porque conhecemos bem aquilo que o Governo pretende fazer. E já foram aqui referidas
algumas matérias, como a da alteração à legislação laboral, visando a flexibilização e o embaratecimento dos
despedimentos, visando o aumento da ADSE, e visando a liquidação da contratação coletiva, direito
conquistado antes do 25 de abril — antes do 25 de Abril, Sr. Primeiro-Ministro! —, e ainda algumas medidas
que significam novos ataques às funções sociais do Estado, designadamente aquele anúncio de 2000 milhões
de euros de cortes que estão já previstos.
Ou seja, Sr. Primeiro-Ministro, diga lá aos portugueses, àqueles que estão, de facto, numa situação
dramática, aos desempregados, aos reformados, aos trabalhadores, aos militares, aos agentes das forças de
segurança, aos pequenos empresários arruinados com esta política de impostos, e até, se quiser, às famílias
daqueles jovens que precisam de frequentar o ensino especial, diga lá em que é que esse ciclo de mudança
que está a ser anunciado se vai refletir na vida dos portugueses.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, estou inteiramente de
acordo com aquilo que afirmou sobre a questão do apuramento de responsabilidades no caso das prescrições
e, portanto, acho muito bem que o Parlamento trate também de ouvir as responsabilidades do Banco de
Portugal na condução do processo. Acho isso — e presumo que já se poderia deduzir das minhas afirmações
— não só perfeitamente natural como exigível. Portanto, felicito o Sr. Deputado e o seu partido por essa
iniciativa.
Quanto à questão que coloca, sobre o prefácio escrito pelo Presidente da República no seu último livro de
discursos, a propósito da saída da troica, não me compete explicar o que o Sr. Presidente da República quer
ou não dizer, pois isso cabe ao Sr. Presidente da República e não a mim, mas posso, sobre os assuntos lá
tratados, ter também uma opinião.
Sr. Deputado, a sua pergunta dá-me a possibilidade de dar um contributo para esclarecer uma matéria que
parece andar um pouco confundida no debate público, nomeadamente no que tem que ver com os direitos dos
credores.
A troica é credora de quase 78 000 milhões de euros que emprestou a Portugal. São normas da União
Europeia — não é uma matéria que diga respeito nem à minha vontade, nem à vontade do Sr. Deputado, nem
à vontade do Sr. Presidente da República —, adotadas nos regulamentos europeus, as de que enquanto
subsistir dívida até um valor equivalente a mais de 25% do total dos empréstimos que tiverem sido outorgados,
os credores terem o direito de saber se o país em causa, o devedor, está ou não em condições de satisfazer
as suas obrigações. É assim! Posso mesmo dizer que não me parece que a questão traga alguma novidade.
Não é uma questão de opção, é assim! Enquanto não amortizarmos até 75% dos empréstimos que auferimos
evidentemente que teremos de dar explicações aos nossos credores das responsabilidades que temos junto
deles.
Isso não significa um regime de avaliação trimestral como aquele que existe durante o período em que o
Programa de Assistência Económica e Financeira é desenvolvido. Trata-se de um regime totalmente diferente.
Portanto, com certeza que enquanto não pagarmos pelo menos até 75% das nossas dívidas, há o direito de os