20 DE MARÇO DE 2014
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nossos credores se inteirarem dos esforços que estamos a fazer para lhes pagarmos aquilo que lhes
devemos. Não vejo que isso, Sr. Deputado, tenha nada de extraordinário.
Diz também o Sr. Deputado que só em 2035 é que deixaremos de apertar o cinto. Creio, Sr. Deputado, que
estamos perante uma questão relacionada com o que está na nossa lei de enquadramento orçamental e que
decorre também do Tratado Orçamental, que foi ratificado nesta Câmara.
Os Estados-membros da União Europeia que subscreveram esse Tratado devem corrigir os seus desvios
acima de um rácio de dívida de 60% que consta do Pacto de Estabilidade e Crescimento, à razão de 1/20 por
cada ano. Isso significa, evidentemente, que poderemos levar até 20 anos a corrigir esses desvios. Se esses
desvios forem muito pronunciados, é evidente que o prazo máximo deverá ser tentado, pois se existe um
esforço muito grande a desenvolver para se regressar a um nível de 60% é natural que não se faça isso em
meia dúzia de anos e que se use o prazo máximo para se poder fazer essa amortização. É, pois, disso que se
trata.
Não é preciso ser-se um barra em aritmética para se perceber que, se se corrige 1/20 por ano, em 20 anos
dever-se-á ter corrigido essa diferença. Não é verdade, Sr. Deputado?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Com estas políticas, não se consegue!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Por conseguinte, também não me parece que o Sr. Presidente da República
tenha feito uma proclamação sobre este assunto. O Sr. Presidente da República limitou-se a constatar que, se
temos um rácio superior a 120% de dívida no Produto, é evidente que demoraremos uns largos pares de anos,
pelo menos esses 20 anos, a regressar aos 60%.
Sr. Deputado, quando participei numa conferência de um diário económico, o JornaldeNegócios,
justamente sobre as condições do pós-Programa, referi o que é a condição mínima de sustentabilidade da
nossa dívida e apareceu uma quanta gente explicando que essa condição estava em contradição com o
prefáciode um Roteiro do Sr. Presidente da República, na medida em que o Sr. Presidente da República
estava a falar da necessidade de corrigir o nosso desvio para os 60% de rácio da dívida que o Pacto
Orçamental contém, enquanto a minha era uma condição de demonstração de sustentabilidade da dívida. Ora,
isso é verdade. Nós, além de precisarmos de demonstrar a sustentabilidade da dívida, também precisamos de
cumprir os objetivos que estão no Tratado Orçamental.
Veja, Sr. Deputado, como afinal se fez tanta confusão à volta de pouco.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem de novo a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, que ainda dispõe de
algum tempo.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, procurarei ser célere.
Sr. Primeiro-Ministro, afinal, sobre mudança e novo ciclo nem uma palavra! Aliás, percebemos que aquilo
que disse ao PS é que admite alteração do Governo desde que se mantenha a mesma política. É por isso que
nós, por exemplo, que nem fomos convocados para isso, não alinhamos com esse consenso, porque o
problema está, de facto, na política e nesses parâmetros que estabeleceu.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Isso depende do povo português, Sr. Deputado!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — A Sr.ª Merkel disse-lhe, com uma grande satisfação: «Não se
preocupe! Saia pela porta traseira, saia pela porta da frente, saia pela porta do lado, seja uma saída limpa,
cautelar ou não, tem o nosso apoio!»
O Sr. Primeiro-Ministro: — Nós somos cumpridores!