I SÉRIE — NÚMERO 62
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O Sr. António José Seguro (PS): — … porque se encontrarmos uma solução europeia para a dívida,
designadamente com a proposta que temos aventado, de mutualização da parte superior aos 60% — não
apenas da dívida portuguesa mas a de todos os outros países da Europa, e estamos a falar de 15 em 18
países —, aí, sim, poderemos beneficiar dessa solução, de modo a aliviar os sacrifícios dos portugueses.
São os portugueses que nos motivam, Sr. Primeiro-Ministro.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do PCP.
Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: Do que nos é possível conhecer
até agora da agenda do Conselho Europeu, ficam claras duas questões.
Primeira, quer o Conselho quer a Comissão estão a protagonizar uma gigantesca campanha de
mistificação em torno da ideia de que o pior da crise já passou. Conhecemos bem essa campanha por cá —
uma campanha ditada pelo facto de estarmos à porta das eleições.
Mas, se há algo clarificador no projeto de conclusões do Conselho para lá da propaganda que encerra, é a
involuntária confissão e o autodesmentido da campanha em torno da retoma e da saída limpa.
Lemos o projeto de conclusões e lá estão todas as linhas de aumento da exploração, de canalização de
recursos públicos para a banca, de concentração e centralização do capital na União Europeia, de garantia de
lucros fabulosos aos monopólios e às transnacionais, à custa dos salários e direitos dos trabalhadores.
Basta ver, por exemplo, o que está redigido no projeto de conclusões sobre a Irlanda para se ver quais são
as tão cantadas saídas.
Sabe o que está na forja para o povo inglês, Sr. Primeiro-Ministro? No processo do Semestre Europeu, a
Irlanda será incluída no procedimento por défice excessivo, portanto, será incluída no processo de governação
económica, ou seja, restrições de soberania económica e orçamental, prosseguimento de destruição de
direitos sociais e laborais, cortes adicionais nos salários e pensões de forma permanente, mais privatizações,
destruição dos serviços públicos para alimentar a gula do grande capital.
Ora, isto vem dizer-nos o que já sabíamos: nem lá nem cá há saídas limpas! Só políticas das «troicas» por
outros meios…!
Por outro lado, e apesar do orçamento da União Europeia continuar a ser um indigente — em sentido
metafórico, perceba-se! —, pretende-se canalizar o que resta para melhorar a competitividade da política
industrial, mobilizando os recursos para a investigação de excelência e para os grandes projetos de
infraestruturas.
Ora, todo este palavreado mais não quer dizer do que subjugar o investimento na ciência ao serviço do
mercado, particularmente as grandes multinacionais através do que chamam «de excelência» que, traduzido,
significa a exclusão de estruturas de investigação de países como o nosso e a canalização dos fundos para a
investigação em tudo o que possa ser vendável, deixando de fora qualquer política de investigação pública e
ao serviço do interesse de todos, processo este, de resto, agravado pelo regime de patentes (unitária) e pela
intenção da criação do tribunal unificado de patentes.
É preciso lembrar que, quando aqui colocámos a questão, só o CDS nos acompanhou, porque a posição
do Governo de então do Partido Socialista era contrária, ou seja, era a favor desta mutilação que hoje volta a
estar aqui na ordem do dia.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Para cumprir aqueles objetivos lá vêm com as parcerias público-
privadas, forma bem conhecida de investimento público para lucro privado, e o recurso à dita «fuga de
cérebros» jovens e menos jovens de elevado grau de formação e conhecimento científico.
Mas de relevo é a gigantesca operação de concentração do setor bancário que está em marcha. A
operação a que chamam «união bancária», salvaguardando, ao mesmo tempo, a união económica e
monetária e o instrumento que permite aos países produtores de produtos de elevada incorporação