I SÉRIE — NÚMERO 77
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Sobre a titularidade privada, parece-me juridicamente pouco consistente estar a considerar as repartições
que foram incendiadas em 150 anos e outras coisas que me parecem o rodapé desta lei. Não estou a ver os
tribunais inundados com as queixas acerca da perda de registos patrimoniais e de tudo isso. Portanto, teremos
de encontrar uma outra forma, mas uma forma que não crie novos imbróglios jurídicos, nomeadamente
discriminações que não se percebem à luz do princípio da igualdade sobre aqueles que reclamam a
titularidade em lagos ou lagoas, ou outros que reclamam em leitos de rios.
Não creio que isso faça muito sentido nem que seja juridicamente aceitável, pelo que vamos ter de debater
isto em filigrana, muito em pormenor, não recusando algumas soluções experimentalistas. A vida já mostrou
que não vamos poder criar uma régua e esquadro que resolva todas as situações, mas temos de, claramente,
fazer prevalecer o interesse público. E nos casos em que se tiver de se aceitar a mera posse ou até a
titularidade privada então que haja um colete legal, público, imperativo de tal ordem que, realmente,
corresponda a exigências não do século XIX, não da monarquia constitucional, mas de uma república
democrática no século XXI e nos tempos que correm.
Não sabemos se o PSD está aberto a esse debate, que precisamos de fazer em profundidade e com
garantias. Esta é uma matéria sensível, é uma matéria que interessa a muitos milhares de portugueses e que,
em geral, interessa a todos aqueles que se preocupam com os riscos que temos nas zonas costeiras e nas
águas interiores no nosso País.
Portanto, há aqui grandes e pequenos interesses. Temos milhares de pequenos agricultores que têm os
olhos postos na solução jurídica que vamos encontrar, como também temos grandes interesses económicos e
aqueles PIN que fugiram para as zonas costeiras e que também estão interessadíssimos na solução que daqui
sair. Sabemos, pois, que interessa a pobres, a ricos, a vários interesses, e que importa também para algumas
tradições — há o problema das rias, quer em Aveiro, quer em Faro, quer noutras áreas do nosso território.
Tudo isso está em causa, mas é exatamente por causa disso que precisamos de fazer um debate sério,
não um debate misto com não sei quantos temas, e que precisamos de soluções jurídicas consistentes. Se é
para isso que o PSD veio, vamos ao debate; se não for para isso, então teremos perdido o nosso tempo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Secretário de Estado do
Ambiente.
O Sr. Secretário de Estado do Ambiente (Paulo Lemos): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Antes
de mais, quero felicitar a Assembleia da República pela aprovação da Lei de Bases do Ambiente.
Penso que foi aprovado um instrumento legislativo importante, um instrumento legislativo inovador, um
instrumento legislativo que efetivamente nos coloca à frente, a nível europeu, em muitas áreas, porque inclui
princípios que são de relevo internacional.
Queria também referir, em defesa da honra de quem elaborou a proposta — sei que a Lei de Bases do
Ambiente foi discutida durante muito tempo, mas é preciso ter memória —, que quem elaborou a proposta
inicial da Lei de Bases do Ambiente, a qual, depois, como foi referido, incorporou muitas sugestões das várias
bancadas, foi um grupo independente, constituído por pessoas de reconhecido mérito na área do ambiente, de
várias sensibilidades políticas e ideológicas. Portanto, dizer que esta Lei de Bases é uma lei vazia e uma lei
liberal é, no mínimo, um insulto a estas personalidades que trabalharam gratuitamente para elaborar a
proposta.
Protestos do Deputado do PS Ramos Preto.
Queria também felicitar os partidos da maioria por terem apresentado este projeto de lei, que, de facto,
para além de resolver o problema colocado pela lei de 2005 procura inovar e tornar mais transparente a sua
aplicação.
Relativamente à questão aqui colocada por vários Srs. Deputados, sobre a demarcação do domínio público
marítimo, sobre os trabalhos que têm sido feitos e sobre se deve ou não ser estabelecido um prazo, quero
dizer que tem sido feito, ao longo do tempo, um trabalho de demarcação da linha do domínio público, dos 50 m