I SÉRIE — NÚMERO 95
26
Mas os problemas que enfrentamos não são só em 2012, têm consequências para lá de 2012. As
consequências deste Orçamento do Estado redundam, por exemplo, numa queda de investimento em cerca
de 30% — o investimento público caiu em cerca de 40%.
Entretanto, também no capital humano, dois terços do desemprego é de longa duração. São
desempregados com baixas qualificações, com idade avançada, desempregados há mais de um ano que
poderão estar a fazer o mesmo caminho que os 300 000 desencorajados já fizeram. Isto é, 300 000
trabalhadores, em idade de trabalhar, desistiram de procurar emprego e já saltaram fora da estatística, para
além dos jovens trabalhadores portugueses que emigraram ao longo destes anos.
Isto é, a austeridade teve consequências de imediato mas tem também consequências gravosas para
enfrentarmos o futuro. É que, obviamente, um País que tem uma queda acumulada de 30% no investimento é
um País impreparado para enfrentar o futuro.
E nós, em 2013, já sabíamos alguma coisa mais sobre austeridade. É que nós, em 2013, já sabíamos que
quando se alivia a austeridade estamos mais perto de atingir as metas, e já devíamos saber, hoje — tínhamos
obrigação de saber! — que a austeridade é nossa adversária, que a austeridade empobrece o País e destrói
as possibilidades futuras de desenvolvimento.
Infelizmente, o que e que o Governo nos diz? Temos austeridade para eternidade, se não nos
conseguirmos livrar de vós!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Cecília
Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Nenhum de nós olha para o ano de 2012 com alegria. Foi certamente um ano extraordinariamente difícil. Por
isso, quando neste debate se dizia que o mundo já mudou bastante, eu digo: ainda bem que mudou, porque,
certamente, não queremos repetir o ano de 2012.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Porém, não posso deixar de notar, com alguma estranheza, que se
diga com absoluta facilidade que as consequências de 2012 se fazem sentir ainda hoje e que 2012 é uma pura
consequência da atuação do Governo e nada tem a ver com o passado de Portugal.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Nada, nada!…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Isso é que é difícil de explicar.
Srs. Deputados, de duas, uma: ou o País nasce todos os anos e nada do que se passa tem a ver com o
seu passado — hipótese que me parece manifestamente falaciosa — ou, então, as coisas têm uma causa.
Portanto, vale a pena analisarmos o ano de 2010, que, repito, foi extraordinariamente difícil não só a nível
do crescimento económico ou, melhor, da recessão mas, sobretudo, pelos níveis do desemprego
extraordinariamente altos que se verificaram e que — também é bom dizê-lo nesta Câmara — estão a ser
revertidos. Quer aquilo que se passou com a economia portuguesa, quer o que se passou com os níveis de
desemprego está ser integralmente revertido neste momento, e atravessamos já uma situação completamente
diferente. Gostávamos que fosse mais rápido? Com certeza que gostávamos, mas não estamos a corrigir
alguns anos de erro, estamos a corrigir décadas de erros.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Voltando às causas profundas de 2012, sempre que temos este
debate fico a mesma dúvida. Toda a oposição nos diz que era bom que tivéssemos tido outras políticas, chega