I SÉRIE — NÚMERO 95
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O Sr. Paulo Sá (PCP): — Este valor é substancialmente superior aos benefícios fiscais declarados na
Conta Geral do Estado. Ou seja, aquilo que o Governo escondeu é muito mais do que aquilo que revelou.
Ao mesmo tempo que cortava salários e pensões, que confiscava os subsídios de férias e de Natal, que
reduzia ou eliminava prestações sociais, que prosseguia o desmantelamento das funções sociais do Estado,
na saúde, na educação e na segurança social, que preparava um inqualificável saque fiscal aos rendimentos
do trabalho, o Governo, em 2012, favorecia os interesses das grandes empresas, atribuindo-lhes, nas costas
do povo, mais de 1000 milhões de euros de benefícios fiscais.
O Sr. BrunoDias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Tentando justificar o assalto aos rendimentos de quem vive do seu trabalho, o
Governo e a maioria que o suporta proclamavam que o País estava perto da bancarrota e que era necessário
fazer sacrifícios. «Não há dinheiro!» — diziam. Mas houve dinheiro, muito dinheiro, para conceder benefícios
fiscais às SGPS (sociedades gestoras de participações sociais).
Vozes do PCP: — Exatamente! Essa é que é essa!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Mas o Relatório do Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado de 2012
contém mais revelações.
São apresentados dados sobre a evolução da despesa fiscal associada aos benefícios fiscais. O que esses
dados nos dizem é simplesmente isto: em todos os impostos, a despesa fiscal diminuiu, com exceção do IRC,
em que a despesa fiscal subiu. Se incluirmos os 1045 milhões de euros omitidos pelo Governo, verifica-se que
a despesa fiscal em sede de IRC é quase o triplo da despesa fiscal de todos os outros impostos tomados em
conjunto.
Perante estas e outras denúncias do Tribunal de Contas, não admira que o Governo tenha criticado o
Relatório do Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado. O Governo não quer ser escrutinado pelo
Tribunal de Contas e compreende-se bem porquê: distorce e omite dados fiscais com o objetivo de tentar
sustentar a sua mentira sobre a repartição justa de sacríficos.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Sr. Secretário de Estado, mas também Deputados do PSD e do CDS,
nas suas intervenções, não falaram das pessoas. Esqueceram-se de falar das pessoas e das consequências
que a política levada a cabo pelo Governo teve na vida das pessoas.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Por isso, Sr. Secretário de Estado, Srs. Deputados da maioria, temos de
relembrar alguns dados relativos a 2012. A taxa de desemprego disparou, atingindo os 15,7%, aumentando
três pontos percentuais; mais de 120 000 portugueses, nesse ano, foram forçados a emigrar e o número de
pessoas em risco de pobreza aumentou, de acordo com dados recentes do INE, para 2,6 milhões. São estas
as consequências que a vossa política, em 2012 e nos anos seguintes, tiveram na vida das pessoas.
Foi esta a opção ideológica e programática do Governo: espoliar os trabalhadores e o povo dos seus
direitos e rendimentos, para garantir mais e mais lucros para o grande capital.
É esta política, na linha dos PEC (Programas de Estabilidade e Crescimento) e do pacto de agressão da
troica, que o Governo quer perpetuar, usando agora o tratado orçamental. É uma política de retrocesso social,
dirigida contra os trabalhadores, os reformados, as famílias, as pequenas empresas, contra as funções do
Estado e dos serviços públicos e a favor, sempre a favor, Sr. Secretário de Estado e Srs. Deputados da
maioria, dos grandes interesses económicos e financeiros.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — É esta política que é preciso derrotar, abrindo caminho a uma alternativa
patriótica e de esquerda ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País.