I SÉRIE — NÚMERO 96
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Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro,
não quis trazer a este debate só os números de uma geração que de tão precária já nem cabe nas
estatísticas. Em vez disso, quis trazer histórias desta geração.
Fique sabendo, Sr. Ministro, que não fui buscar estas histórias à TV, nem aos jornais, embora sejam cheios
delas, fui antes buscá-las aos meus amigos, aos meus colegas, às pessoas que conheço nas redes sociais, às
histórias que conhecemos de todos os dias e peço que as oiça, porque são relatos verídicos de pessoas com
nomes verídicos, que existem. São as histórias de milhares de jovens neste País.
É o caso do Lourenço, que trabalha numa grande empresa de vinhos e ganha 550 € por mês, com
contratos a sete meses.
É o caso do Gonçalo, professor há oito anos numa escola pública, sempre precário.
É o caso da Erica, pós-graduada, que nunca encontrou trabalho na área e teve contratos quinzenais —
assentem bem, Srs. Deputados, contratos quinzenais! — em call centres da PT (Portugal Telecom) que, claro,
não eram da PT, eram de uma empresa de trabalho temporário que contrata precários pela PT. Depois disso,
a Erica trabalhou numa caixa de supermercado, com contratos a seis meses
É o caso da Sara, que trabalhou oito anos e meio em call centres, de tal forma que chegou a acumular um
part time com um full time para conseguir ganhar um salário suficiente para pagar uma renda de casa em
Lisboa.
Falo ainda do caso do Bruno, que teve contratos semanais em call centres da banca, renovados
diariamente, Sr. Ministro! Contratos renovados ao dia.
Estas são histórias verídicas e como estas pessoas há muitas mais. Todos e todas as conhecemos.
O que estas pessoas querem saber, Sr. Ministro, o que nós queremos saber é a resposta do Sr. Ministro
aos anúncios da Danone, que oferece estágios em troca de 24 iogurtes. É isso que nós queremos saber.
O que nós queremos saber, Sr. Ministro, é a sua resposta à PT, à EDP ou à Saúde 24, que contratam
empresas de trabalho temporário para nunca integrarem os trabalhadores nos seus quadros e para nunca lhes
darem direitos.
O que nós queremos saber, Sr. Ministro, é a sua resposta às empresas de trabalho temporário, aos
restaurantes, aos supermercados, às empresas de turismo, aos institutos públicos, que fazem contratos ao
dia, à semana, ao mês, para preencher vagas que sabemos que são permanentes.
O que nós queremos saber, Sr. Ministro, é a sua resposta às 435 000 pessoas — quase meio milhão de
pessoas! — que estão abaixo dos 34 anos de idade e que não estudam nem trabalham. Qual é a sua resposta
ao meio milhão que faz a geração dos «nem-nem», gente que não tem perspetivas de futuro, não tem
emprego, não tem subsídio de desemprego, porque nunca foi empregada? São meio milhão de jovens neste
País! Qual é a sua resposta? E não diga, por favor, que é mais estágios, porque estas pessoas estão nestas
situações porque já tiveram estágios, que são a nova forma de precariedade.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Termino já, Sr. Presidente.
O que nós queremos saber, Sr. Ministro, é qual é a sua estratégia e a sua resposta quando, perante um
inquérito, mais de 50% dos jovens em Portugal — metade dos jovens! — diz que já emigrou ou pensa fazê-lo.
Qual é a sua resposta quando tem metade dos jovens do País que governa a dizer que pensa emigrar ou já o
fez? É que, até agora, a única coisa que o seu Governo fez foi mandar esta metade emigrar e chamar piegas à
outra que ainda não emigrou.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo.