19 DE JUNHO DE 2014
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O Sr. António Cardoso (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro: O trabalho deveria desempenhar o papel
central de cada indivíduo na sociedade. Um trabalho de má qualidade, isto é, penoso, perigoso, precário, com
baixa remuneração e com baixo prestígio social relega os indivíduos para situações de indigência e de
exclusão social.
É do conhecimento público, não pode ser ignorado, que 170 000 famílias deixaram de pagar aos bancos os
seus compromissos com o crédito à habitação própria. Muitos foram forçados a emigrar devido a dificuldades
económicas. O número de emigrantes portugueses continua a aumentar desde 2009, tendo, em 2014, atingido
um valor recorde. Até a geração dos 40 e 50 anos teve de arriscar a emigração.
É preciso acabar com este flagelo que destrói o nosso País. O combate à precariedade laboral só pode ser
feito através do crescimento. O crescimento é a chave para criar mais e melhores empregos e reforçar a
coesão social.
É preciso estimular o crescimento para obtermos a criação de emprego. São precisas políticas públicas de
crescimento.
Portugal não pode continuar no pódio dos países que mais contrata a prazo.
Portugal não pode forçar os seus cidadãos a emigrar.
Portugal não pode promover medidas de precarização e degradação do mercado laboral.
Pergunta-se: pretende o Governo continuar com as políticas desastrosas de precarização laboral seguidas
nos últimos três anos?
Caso contrário, que medidas preconiza o Governo para eliminar ou reduzir o trabalho precário, políticas de
baixos salários, contratos a prazo, falta de condições de segurança no trabalho, retirada de direitos sociais
etc., que tanto têm empobrecido os portugueses?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado David Costa.
O Sr. David Costa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, a precariedade laboral, em Portugal, aumentou
exponencialmente pela mão da política de direita e das opções deste Governo.
A Constituição consagra direitos dos trabalhadores, mas aquilo a que se assiste é à promoção da
precariedade pelo Governo, diretamente na Administração Pública, mas também no setor privado.
Por ação e opção do Governo PSD/CDS, a realidade que se vive nos locais de trabalho é o resultado de:
sucessivas alterações ao Código do Trabalho para despedimentos mais fáceis e mais baratos; prestação de
trabalho com recurso a falsos recibos verdes; aumento dos prazos com renovações extraordinárias nos
contratos a termo; recurso a trabalho temporário, trabalho a tempo parcial e contratos de emprego-inserção
para suprir necessidades permanentes de trabalho; trabalho gratuito, que resulta da retirada de sete dias de
férias e feriados por ano e do aumento do horário de trabalho; e, por fim, e com o apoio da UGT, uma tentativa
sem precedentes de destruição da contratação coletiva, com o objetivo da sua substituição pela relação
individual de trabalho.
Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as
e Srs. Deputados: A precariedade tem sido uma das formas encontradas
para agravar a exploração de quem trabalha.
Um dos grandes objetivos deste Governo foi o de agravar a exploração, impondo um modelo assente em
salários baixos, no trabalho desregulado e sem direitos, desequilibrando as relações de trabalho a favor dos
grandes patrões.
Assim se compreende que também este Governo tenha feito do aumento da precariedade o denominador
comum da sua ação, conduzindo os trabalhadores, particularmente os jovens, à situação dramática que hoje
enfrentam.
Mais do que os discursos de falsas preocupações, como aquele que hoje aqui ouvimos por parte do Sr.
Ministro, falam pelo Governo as medidas que têm tomado contra os trabalhadores e as suas condições de
trabalho, nomeadamente as propostas com que querem agora demolir a contratação coletiva, empurrando os
trabalhadores para a contratação individual, à peça, sem direitos defendidos, com salários esmagados e
horários de trabalho de sol a sol ou à medida das conveniências do patrão.