I SÉRIE — NÚMERO 4
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Há os estagiários, pagos com dinheiro do próprio Estado e dos contribuintes, que depois têm empregos
precários — nem são empregos precários, são estágios sem nenhumas garantias.
Há os desencorajados que desistiram de procurar emprego. Esta é uma economia que não cria
investimento, não tem investimento líquido nenhum; tem algum crescimento económico que se aproxima muito
mais de uma estagnação, de uma economia fantasma do que de um cenário de crescimento e de recuperação
que o Sr. Deputado aqui veio apresentar.
E este pouco crescimento que acontece depende do consumo. Ninguém sabe como, depois do que o
próprio partido do contribuinte castigou os consumidores e as pequenas empresas, com uma carga fiscal
inimaginável há dois anos ou há três anos, quando o CDS não estava no Governo e vinha defender os direitos
dos contribuintes.
No meio disto tudo, no meio de todo este cenário, encontramos o turismo, que é uma variável que vai
crescendo a contraciclo — tem toda a razão o Sr. Deputado —, mas que também tem dentro dela todos os
problemas da economia, a precariedade — é um setor cheio de precariedade, é onde grassam os baixos
salários, as poucas condições laborais, e sobre isso não conseguimos ainda ouvir uma palavra.
Nós já percebemos que este Governo tornou este País muito atrativo para quem vem de fora. A nossa
pergunta é: quando é que este Governo vai tornar este País atrativo para quem vive cá?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, queria agradecer as perguntas do Sr.
Deputado Bruno Dias e da Sr.ª Deputada Mariana Mortágua não sem antes registar dois aspetos.
O primeiro aspeto é que tenho de pedir desculpa à Deputada Mariana Mortágua porque ainda sou eu e a
minha bancada que escolhemos o tema das nossas declarações políticas e não o Bloco de Esquerda. Um dia
hei de acertar com o tema do agrado e do gosto de V. Ex.ª, mas terá de esperar um pouco mais.
Depois, registo o incómodo da Sr.ª Deputada e o do Sr. Deputado Bruno Dias. Se há setor onde não há o
grande empresariado, os grandes lobbies, as grandes fortunas, é exatamente o do turismo.
Sabe, Sr.ª Deputada, no turismo há donos de restaurantes, pequenas e microempresas familiares,
empresas de animação turística, taxistas, guias, ou seja, é o maior setor da economia, é o setor mais
empregador, porque é completamente transversal à sociedade portuguesa e tem muita gente, muito português
que investe, que arrisca, que cria o seu próprio emprego. E esse resultado incomoda VV. Ex.as
.
Sr.ª Deputada, se o País é um País agradável para quem nos visita, é por uma razão muito simples: é
porque quem cá está sente-se muito confortável com o País que tem e tem muito orgulho no País.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Vou dar-lhe mais dados deste setor para perceber que, de facto, é
importante. São dados de 2013: impacto direto no PIB — em Portugal, 5,8%, na Europa 3,1%, no mundo
2,9%: emprego direto — 7,2% em Portugal, 3,1% na Europa, 3% no mundo; emprego total — 18,2% em
Portugal.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Por que é que o emprego não aumenta?
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Respondendo também ao Deputado Bruno Dias, as exportações
continuam a ser um fator importante. Sempre dissemos que é preciso exportações, mercado interno e
financiamento. Estamos a tratar dos vários aspetos. Exportações — 19,6% em Portugal, 5% na Europa e 5,4%
no mundo; investimento, outro pilar — 12,5% em Portugal, 4,6% na Europa e 4,4% no mundo.
Percebo que são, de facto, números arrasadores, que mexem com aquela tentação, às vezes obsessão, de
os partidos, nomeadamente o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, quererem apenas apostar
no quanto pior, melhor. E qualquer boa notícia incomoda e fazem o desafio para que, de facto, possamos falar
de coisas laterais.