18 DE OUTUBRO DE 2014
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A Sr.ª Presidente: — Antes de prosseguirmos com o debate, lembro aos Srs. Deputados que está a
decorrer na Sala D. Maria a eleição para um vice-presidente e para um vice-secretário da Mesa. Peço que não
se esqueçam de ir votar.
As próximas intervenções seguem a seguinte ordem: do PS, o Sr. Deputado Bravo Nico; do PCP, a Sr.ª
Deputada Carla Cruz; do Bloco de Esquerda, a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bravo Nico.
O Sr. Bravo Nico (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: Através dos
vários quadros comunitários de apoio, o nosso País conta, desde 1986, com duas importantes fontes de
financiamento para o seu desenvolvimento, a saber, o financiamento nacional, inscrito nos diferentes
Orçamentos do Estado e o financiamento europeu, inscrito nos diferentes programas operacionais nacionais e
regionais.
Neste contexto, Portugal terá recebido, até ao final do ano 2013, cerca de 95 000 milhões de euros em
fundos estruturais e de coesão. Os impactos positivos deste esforço de investimento são visíveis nas regiões
históricas e estruturalmente mais frágeis do interior do território continental e nos arquipélagos da Madeira e
dos Açores.
Ao longo deste período de apoio europeu, as regiões mais ricas viram diminuir as taxas de cofinanciamento
europeu nos seus projetos de desenvolvimento, enquanto as regiões mais pobres mantiveram aquelas taxas.
Esta realidade mantém-se e determina que o quadro de apoio europeu que agora se inicia — Portugal
2020 — acentuará, no nosso País, aquilo a que chamo uma fratura orçamental, o que criará, cada vez mais,
uma desigualdade entre as regiões mais e menos desenvolvidas no que respeita ao acesso ao financiamento
do Orçamento do Estado.
Na realidade, ao observarmos com algum detalhe o perfil dos últimos quatro Orçamentos do Estado e dos
diferentes programas operacionais do novo QREN — Portugal 2020, verificamos que está a ocorrer uma
alteração estrutural no perfil de financiamento das regiões do interior do País ao nível do apoio aos projetos de
desenvolvimento, em muitas das despesas associadas ao funcionamento dos serviços públicos e na
concretização das funções sociais do Estado.
De facto, se a crescente presença relativa do financiamento europeu, no esforço de desenvolvimento e na
presença dos serviços públicos nas regiões menos desenvolvidas parece ser uma vantagem, na minha
opinião, tal pode não ser verdade. Muito pelo contrário, podemos estar perante uma armadilhaorçamental
que, a prazo, resultará numa maior fragilização estrutural destes territórios e regiões do interior.
Para demonstrar o que afirmo, dou o exemplo do caso da educação e da ciência no Alentejo, região onde
vivo e desenvolvo a minha atividade profissional. Nos últimos três anos, os vossos Orçamentos do Estado
para financiarem as instituições de educação e de ciência, nomeadamente as do ensino superior, diminuíram
de forma sistemática e drástica.
Nestas circunstâncias, estas instituições têm vindo a procurar alternativas de financiamento,
nomeadamente nos programas europeus do sector, à semelhança das suas congéneres de todo o País e,
mais recentemente, através do recurso aos programas operacionais regionais, para onde o atual Governo as
está a empurrar orçamentalmente.
Por outras palavras, o euro oriundo da Europa que se adicionava ao euro oriundo do Orçamento do Estado
para promover o desenvolvimento convergente do Alentejo e do interior do País, neste momento, não está a
acontecer; muito pelo contrário, o euro europeu está cada vez mais a substituir o euro nacional que este
Governo retira a essas regiões em sede de Orçamento do Estado.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Bravo Nico (PS): — Nestas condições, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, para o
interior de Portugal, a crescente e sistemática substituição da torneira orçamental portuguesa pela torneira
orçamental dos fundos europeus não é uma vantagem, é uma armadilha que VV. Ex.as
estão a lançar.
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Muito bem!