I SÉRIE — NÚMERO 25
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Portanto, face a este quadro que o Governo foi desenhando ao longo dos últimos anos, o resultado não
podia ser outro: pobreza, exclusão social e privação material severa para muitas famílias portuguesas. O
Governo, que devia, aliás, envergonhar-se face aos resultados das suas políticas e face aos números e à
dimensão da pobreza, continua a «assobiar para o lado» como se nada se passasse, prossegue as suas
políticas indiferente ao rasto de pobreza que vai deixando a cada dia que passa.
Sr. Ministro, no Orçamento do Estado para 2015, o Governo decidiu, foi essa a sua opção, voltar a baixar o
IRC das grandes empresas e voltou a aumentar, também foi uma opção, os impostos sobre as famílias; o
Governo decidiu, por opção, cortar mais 100 milhões de euros nas prestações sociais e optou por pedir
apenas 30 milhões de euros à banca, que nem sequer vêm para os cofres do Estado, pois ficam no Fundo de
Resolução ao dispor da banca.
Face a estas opções, considera o Sr. Ministro que com este Orçamento do Estado vamos ter, em 2015,
mais ou menos pobreza?
A Sr.ª Presidente: — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina
Marcelino.
A Sr.ª Catarina Marcelino (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, devo dizer que estive com muita atenção à
sua intervenção e que o ouvi falar do Programa de Emergência Social — de resto, a Sr.ª Deputada Clara
Marques Mendes pediu que falasse sobre ele e nós também gostaríamos que o fizesse, porque ainda hoje
estamos à espera de uma avaliação séria deste programa —, mas não o ouvi falar de uma questão que é,
para nós, importante, embora, se calhar, para o Sr. Ministro não tenha a importância que lhe damos. Refiro-me
à questão da centralidade dos serviços de segurança social na resposta às pessoas em dificuldades, na
resposta à pobreza e à exclusão no nosso País.
O Sr. Ministro não pode negar que a dispensa de 700 trabalhadores na segurança social, que estão a
exercer funções — porque o que os senhores dizem não é verdade, estes trabalhadores estão mesmo a
exercer funções —, cria perturbação e prejudica a eficácia e a eficiência da resposta que a segurança social
dá aos cidadãos, nomeadamente aos mais pobres.
Eu podia falar aqui de presidentes de comissões de proteção de crianças e jovens (CPCJ) que estão a ser
enviados para a requalificação, especialistas em áreas fundamentais, mas o que gostaria era de saber o que o
Sr. Ministro tem a dizer sobre um exemplo em concreto que reputamos de muito, muito grave.
Num centro distrital de segurança social, nos serviços de call center, há cerca de 30 assistentes
operacionais — dos quais, depois dos despedimentos em curso, vão ficar três — que, apesar de irem ser
dispensados, porque o Sr. Ministro diz que não têm funções, estão a dar formação a trabalhadores
desempregados ao abrigo dos contratos emprego-inserção. E esses desempregados, que não deviam estar a
ocupar postos de trabalho, utilizam o perfil e a password dos trabalhadores que estão a ser dispensados para
introduzir registos no sistema. O Sr. Ministro tem de saber que se houver problemas nesses registos os
trabalhadores é que vão ser chamados à responsabilidade.
Gostava de saber o que é que o Sr. Ministro tem a dizer sobre isto, porque esta situação é uma vergonha,
não é de todo aceitável!
Aplausos do PS.
Sr. Ministro, gostava de saber se os senhores acham que a reforma da Administração Pública e da
segurança social se faz enviando pessoas que estão a exercer funções para a requalificação, se é assim que
os senhores acham que podemos combater devidamente a pobreza e a exclusão em Portugal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem, agora, a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato, do PCP, para pedir
esclarecimentos.