4 DE DEZEMBRO DE 2014
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A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, o senhor teve o descaramento de falar aqui de
ética social na austeridade, quando uma das expressões mais chocantes e dramáticas dos tempos que
vivemos é a pobreza infantil. A pobreza infantil não é obra do acaso, tão-pouco é apenas resultado do
desemprego, e o Sr. Ministro sabe disso.
A pobreza infantil é o resultado direto das opções do Governo PSD/CDS, da precariedade, dos baixos
salários e do corte nos apoios sociais.
A fome e as carências alimentares são hoje uma realidade com que muitas famílias vivem. Há mais de 14
000 crianças que tomam a sua única refeição quente na escola; 30% das crianças encontram-se numa
situação dramática de privação material. A pobreza infantil é um sinal de retrocesso civilizacional e de
degradação da democracia.
Diga-nos aqui, Sr. Ministro, se o combate à pobreza infantil se faz cortando o rendimento social de inserção
a mais de 40 000 crianças desde 2010 — há 40 000 crianças que, desde 2010, perderam o rendimento social
de inserção — ou se faz, pelo contrário, com a solução que o PCP tem apresentado, garantindo os apoios
sociais a todas as crianças e famílias que efetivamente precisam.
Diga-nos se o combate à pobreza infantil se faz mantendo o corte no abono de família que vem do anterior
Governo, do Partido Socialista, e agravando esse corte a mais de 200 000 crianças ou se faz, como o PCP
propõe, assegurando a universalidade e o aumento do valor do abono de família para todas as crianças.
Diga-nos se o combate à pobreza infantil se faz cortando 36 milhões de euros na educação especial e
recusando pagar o subsídio de educação especial a milhares de crianças, criando uma situação de desespero
a milhares de famílias neste País, ou se faz, pelo contrário, assegurando os meios técnicos e pedagógicos que
garantem a inclusão efetiva destas crianças e dos cidadãos com deficiência.
Diga-nos se a proteção à infância se faz despedindo, ameaçando e enviando para a requalificação, que é a
antecâmara do despedimento, a Presidente da CPCJ de Santigo do Cacém. É assim que se concretiza o
programa de apoio à infância, despedindo e desmantelando as comissões de proteção, que têm falta de meios
e que «não sabem para que lado se virar» com trabalho? Não é efetivamente assim, Sr. Ministro.
Por isso, é que nós entendemos que a pobreza é o resultado da política do seu Governo, com muitas
medidas iniciadas pelo anterior Governo do Partido Socialista mas que colocam, hoje, em causa a dignidade
na vida das crianças deste País. O Governo é responsável pela discriminação e pela negação de direitos
fundamentais às crianças deste País. Nós entendemos que é preciso um outro caminho, um caminho de
progresso e de justiça social, e cá estaremos para a derrota do Governo e desta política.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Artur Rêgo, do CDS-PP.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Ministros, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados,
este discurso contínuo do Partido Socialista quase me faz lembrar aquela rábula dos Gato Fedorento, na
televisão: fala, fala, fala e não faz nada.
Protestos do PS.
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — Os senhores é que são Governo!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Mas enquanto o PS tem este discurso constante, vamos ver no que se
apoia.
Quanto ao INE e ao índice do aumento do risco de pobreza, os senhores não dizem aos portugueses que
diz respeito ao período entre 2005 e até 2012. Quem governava? Partido Socialista, Governo Sócrates!
A Sr.ª Sónia Fertuzinhos (PS): — É 2012! Não é 2005!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Quanto ao índice de Gini, de discrepância e disparidade entre ricos e
pobres, sempre a aumentar. Quando? Entre 2009 e 2011. Quem governava? Governo PS/Sócrates.