I SÉRIE — NÚMERO 60
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O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Tal só vem provar que a propaganda do fim da troica era isso mesmo.
Portanto, a pergunta impõe-se: que medidas adicionais estão a discutir no âmbito do Semestre Europeu? O
que é que estão a preparar nas costas dos portugueses?
Este Conselho prevê fazer o ponto da situação relativamente ao tratado transatlântico, o dito TTIP (Acordo
de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento entre a União Europeia e os Estados Unidos da
América). Sr. Primeiro-Ministro, pergunto-lhe: está disponível para fazer, neste Parlamento, o debate
necessário em relação aos direitos laborais, ao ataque à soberania nacional, à qualidade e soberania
alimentar e mesmo quanto às questões ambientais?
Queremos ser muito claros: o PCP opõe-se frontalmente a um acordo que só serve os interesses das
grandes multinacionais e que irá destruir ainda mais o nosso setor produtivo. Esta é a razão por que exigimos
esse debate. E o secretismo que tem rodeado o processo de negociação em curso não é bom sinal, Sr.
Primeiro-Ministro.
Falando dos grandes interesses, queria colocar-lhe uma outra questão: qual é a posição do Governo
português face às declarações do Presidente da Comissão Europeia defendendo a criação formal de um
exército da União Europeia para — e passo a citar — «fazer compreender à Rússia que falamos a sério
quando se trata de defender os valores da União Europeia»? De que valores é que estamos a falar, Sr.
Primeiro-Ministro? Será do valor «usar a força para atiçar mais um conflito», que pode ter consequências
imprevisíveis na Europa?
Estas declarações só vêm pôr a nu a natureza da União Europeia. Já não basta o neoliberalismo
desenfreado, as imposições descaradas, as chantagens e a postura quase colonial, como foi e é bem patente
no caso da Grécia.
Ao neoliberalismo e ao federalismo surge associada, como não poderia deixar de ser, a vertente militarista,
o que prova que este não é o rumo que o nosso povo e os outros necessitam, que é contrário à paz, à
cooperação, ao respeito mútuo entre os povos e os países da Europa. Esses, sim, são valores civilizacionais
que precisam de ser defendidos.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: O Governo português apresenta-se
no próximo Conselho Europeu triplamente fragilizado.
Em primeiro lugar, apresenta-se fragilizado porque este é o segundo debate quinzenal, em seis meses, em
que se debatem questões sobre as obrigações básicas enquanto cidadão que nunca ficaram esclarecidas.
Julgo que não é fácil para as democracias perceberem o que se está a passar em Portugal.
É mesmo caso para dizer que uma desgraça nunca vem só. Em Portugal, é um Primeiro-Ministro que não
tem condições políticas para o ser e que se junta a um Presidente da República que, desde o início, trocou ser
o garante da Constituição e das instituições por ser o garante do seu partido.
Sr. Primeiro-Ministro, o problema é que a descredibilização internacional do Governo e da presidência tem
efeitos nas opções tomadas aqui dentro.
Em segundo lugar, apresenta-se no Conselho Europeu fragilizado, porque entra com a imagem do bom
aluno que, afinal, chumbou no final do ano. Foi mostrado enquanto exemplo de sucesso quando era preciso
fazer chantagem. Aqui veja: o bom caminho será o da submissão à Alemanha.
Mas, bem, passado o número da propaganda, vêm os números a sério: aumento da dívida pública, que
superou os 130% do PIB; o défice não está controlado, e pode bem ficar acima dos 3%; e a enorme taxa de
desemprego, que não é escondida pelos números que o Sr. Primeiro-Ministro trouxe, por uma questão muito
simples. Olhemos para os números do emprego: entre 2004 e 2010, Portugal perdeu 400 000 pessoas em
idade ativa e perdeu 500 000 pessoas a trabalhar. Para além disso, há hoje mais 800 000 pessoas com
subemprego ou com trabalho parcial.
Sim, Sr. Primeiro-Ministro, temos um problema grave, gravíssimo, de desemprego e não parece estar a ser
resolvido.