I SÉRIE — NÚMERO 88
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A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, o Estado tratou o processo de
resolução nos termos em que ele deveria ser tratado. Foi o Banco de Portugal que impôs uma medida de
resolução.
A interpretação que o Centro de Estudos Fiscais fez desta operação parece-me inteiramente correta, mas
foi o Centro de Estudos Fiscais, o Governo homologou-a. Em consequência disso, esta operação foi tratada
nos termos em que seria tratado um processo de reestruturação, embora, neste caso, tivesse sido decidido
pelo regulador, pelo supervisor.
Sr.ª Deputada, deixe-me dizer-lhe o seguinte: não sei por que é que a Sr.ª Deputada se presta a fazer esta
sugestão demagógica de que, no fundo, estamos aqui a querer fazer um tratamento de benefício ao processo
de resolução do Banco. A Sr.ª Deputada e o seu partido, o Bloco, defendiam até a nacionalização de todos os
bancos!
Sr.ª Deputada, diga-me: quanto custaria aos bolsos dos portugueses a nacionalização do Banco Espírito
Santo?
Aplausos do PSD e CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Primeiro-Ministro, um Governo que, quando se trata de pensões, de
salários, de educação, de saúde, de cultura, de ciência, responde sempre que não há dinheiro tem de saber
muito bem responder à pergunta: «Para onde vai o dinheiro?».
O Novo Banco começou, à cabeça, com 2865 milhões de euros em benefícios fiscais, um banco sem
prejuízos, limpinho, porque os prejuízos ficaram no BES e, mesmo assim, tinha este crédito, que é utilizado
tendo em conta eventuais prejuízos da banca. O Novo Banco limpo, sem prejuízos, logo com 2865 milhões de
euros em benefícios fiscais!
Depois, usando o argumento de que era uma reestruturação, levou mais 85 milhões de euros; utilizando,
depois, o argumento de que, afinal, era uma resolução, mais 240 milhões de euros que a Autoridade Tributária
já tinha negado.
Protestos do PSD.
Ou seja, o seu Governo já vai em mais de 3000 milhões de euros a «engordar» o Novo Banco.
A minha pergunta é a seguinte: é para fazer o quê? É para tentar fazer um «número» de uma venda do
Novo Banco melhor para se safar enquanto propaganda, mas, depois, ficaremos aqui por anos e anos a pagar
os créditos que anda a oferecer aos futuros compradores?!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, tem, de novo, a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada, não insista nessa linha porque eu não vou
acompanhá-la.
A administração tributária tratou esta operação nos termos que lhe pareceu adequados face ao regime que
se aplica a estas matérias, por analogia.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A Autoridade Tributária deu um parecer negativo!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E tem todo o sentido, já o disse e não vou repetir.