I SÉRIE — NÚMERO 6
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O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, só agora reparei, mas informo-a que ultrapassou largamente o tempo
de que dispunha. Foi uma distração, que não é normal!
Tem a palavra o Sr. Deputado Paulino Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O investimento é fundamental para
o crescimento e para o emprego, mas nem todo o investimento é igual. Podemos estar a falar de investimento
produtivo que cria emprego duradouro e qualificado, que cria bens transacionáveis para permitir equilibrar as
contas externas, que cria uma economia diversificada ou, pelo contrário, podemos estar a falar de investimento
especulativo, não duradouro, que não cria riqueza mas que tão-só transfere a sua posse, que extrai rendas à
economia e empobrece o País a cada expatriação de lucros.
Este segundo caminho foi o caminho levado a cabo pelo anterior Governo e que continua a ser defendido
pelo CDS e pelo PSD, que foi a política dos vistos gold e das privatizações a pataco,…
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ai é?!
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — … investimentos que vieram apenas adquirir a posse de empresas
consolidadas e lucrativas, e o Estado vê a economia empobrecer a cada pagamento de dividendos.
O tipo de investimento que queremos é o de um País com uma economia diversificada, com empregos
qualificados e não o de um País transformado em colónia de férias dos aposentados da Europa rica ou em
refúgio das oligarquias de regimes corruptos.
Protestos do PSD.
E a fiscalidade determina que tipo de investimento deve ser favorecido. A tributação do património
penalizando a concentração deste tipo de riqueza favorece o crescimento, pois obriga, nomeadamente, os
proprietários do património imobiliário a introduzir esse mesmo património que esteja ocioso na economia, ou
arrendando, ou vendendo, ou explorando diretamente.
Ora, temos em Portugal um terço dos solos agrícolas ociosos e um quinto dos edifícios desocupados. O
imposto sobre as grandes fortunas, além de ser socialmente justo, tem este efeito positivo sobre o crescimento,
favorece o investimento produtivo e desfavorece o investimento especulativo.
Quanto à distribuição da riqueza, ela deve ser distribuída no momento em que é criada, porque se fica adiada
para momento posterior essa redistribuição nunca acontece, essa redistribuição deve ser feita no momento em
que a riqueza é criada com salários justos e com política fiscal justa.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Cumpre notar que, depois do alarido sobre a sovietização e outros epítetos
com que foi atacado o imposto sobre o património, o PSD rapidamente «meteu a viola no saco» e este assunto
foi completamente esquecido na semana passada, quando do debate com o Primeiro-Ministro.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Bem lembrado!
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Quem os viu e quem os vê em tão curto espaço de tempo!
O Sr. Heitor Sousa (BE): — É verdade!
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Ora, este imposto não impede o investimento, mas pode prevenir o
ressurgimento de uma nova bolha especulativa. Convém lembrar que foi a bolha especulativa dos anos 90 e
início dos anos 2000 a responsável por boa parte da dívida externa do País, pública e privada.
Esta dívida é o grande estrangulamento que impede o investimento, o crescimento e a criação de empregos
e que mais cedo ou mais tarde há de, seguramente, ser atacado, há de ser enfrentado.
A questão que deixo ao Sr. Ministro é a de saber se concorda com esta visão…