I SÉRIE — NÚMERO 45
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Perde Lisboa, perde a economia de Lisboa, perde a economia nacional, porque estamos a falar de um porto
tremendamente importante para complementar todos os outros portos, quer seja no movimento railroad ou
noutro movimento qualquer.
Portanto, os senhores, em matéria de portos, anunciaram muitas coisas, e, com algumas delas, estou
perfeitamente de acordo, mas é preciso dar mais competitividade aos portos portugueses. Está tudo feito no
mar, falta fazer tudo em terra! É fundamental criar e agilizar um «Simplex portuário».
Mas, Sr. Deputado, se me disser, de todas essas medidas que anunciou, de todos esses investimentos, qual
é a que está concretizada, agradecia. E já nem sequer lhe vou fazer perguntas sobre o novo terminal de
contentores, porque, em relação a essa matéria, ainda não percebi qual é a política do Governo. Se me quiser
dar uma ajudinha e explicar o que pretendem fazer, no Barreiro ou noutro lado, também agradecia.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Afinal, o Sr. Deputado Bruno Dias também se inscreveu para
pedir esclarecimentos, pelo que tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Paulo Correia, há três ou quatro questões
centrais que o PCP gostaria de colocar sobre este tema fundamental que aqui trouxe, relativo ao setor portuário
e ao desenvolvimento nacional nesse domínio.
Primeira questão: a necessidade de se assumir uma visão integrada, harmoniosa, coerente do
desenvolvimento do setor portuário. Não podemos ter os portos nacionais a lutar uns contra os outros, a
concorrer uns contra os outros. Quando a diferenciação dos perfis produtivos, a complementaridade dos
sistemas logísticos e a sua articulação efetiva forem verdadeiramente assumidos como fator estratégico, então
aí o País terá um sistema portuário mais coerente, mais forte e em melhores condições de responder às
necessidades do País.
Segunda questão: a necessidade de uma efetiva coordenação ao nível do planeamento estratégico e do
desenvolvimento territorial entre, por um lado, os portos nacionais, o investimento e as apostas que, para eles,
são decididas e, por outro, o nosso aparelho produtivo, o seu desenvolvimento e a sua inserção como parte
integrante das cadeias logísticas. É que nós não podemos ter um País apenas a importar ou a ver passar
mercadorias e, por isso, o aparelho produtivo, os portos nacionais e todo o sistema logístico nacional têm de
estar, efetivamente, articulados.
Terceira questão: a necessidade imperiosa de combatermos a precaridade laboral nos portos nacionais e de
defendermos a estabilidade, a qualidade, os direitos e as condições de trabalho no trabalho portuário. Não é
com o trabalho precário, escravizado, mal pago, que, pelos vistos, o CDS-PP mais uma vez voltou a defender,
que os portos nacionais se vão distinguir no contexto internacional e na economia global de que tanto se fala, é
pela qualidade, pela especialização, pela diferenciação e pela confiança que os agentes económicos podem
depositar no nosso sistema portuário e logístico nacional.
Portanto, tudo isto acaba por convergir numa questão central e incontornável, que é a forma como têm sido
conduzidos os negócios das concessões no setor aos grupos económicos e a forma como sucessivos governos
têm levado a cabo uma política de entrega deste setor, destas áreas estratégicas da nossa economia, do nosso
desenvolvimento e da nossa soberania, até, a grupos económicos, em prejuízo claro do interesse público e do
interesse nacional.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para terminar: a questão que acaba por ser o ponto de confluência de todos
estes problemas é a da estratégia de desenvolvimento, defesa e garantia da soberania nacional e do interesse
público nessa matéria.
Aplausos do PCP.