I SÉRIE — NÚMERO 69
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de referendo na Escócia e não sabemos até quando o reino continuará unido. Será certamente mau para os
dois lados.
Mas há um outro ponto que acho que é o mais importante, o de percebermos que muitas das opiniões
públicas se levantam, muitas vezes de forma legítima, contra uma Europa excessivamente burocratizada, contra
uma Europa onde a solidariedade, enquanto pilar fundamental na relação entre os Estados e entre os Estados
e as instituições, se tem vindo a corroer. E Portugal, hoje, pode queixar-se dessa falta de solidariedade. Queixa-
se dessa falta de solidariedade, quando ainda não conseguimos ter, por exemplo, a interconexão energética,
tão importante para tirar Portugal da periferia, do ponto de vista energético, quando ainda não conseguimos
concluir, do ponto de vista da arquitetura da zona euro, um modelo que garanta segurança, do ponto de vista
das instituições financeiras, e que, nesse sentido, ajude a financiar a nossa economia.
Há ainda um outro tema que nos preocupa muito, Sr. Deputado. E sobre esse, Sr. Deputado Vitalino Canas,
reforçando a pergunta e respondendo também ao Sr. Deputado Luís Campos Ferreira, o Sr. Deputado não diz
nada.
É que, neste momento, a solução governativa, em Portugal, é composta por quatro partidos, uma coligação
de partidos, os partidos da maioria, dos quais três são claramente, com tons ou nuances, contra a pertença de
Portugal à zona euro.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — E sobre essa matéria, o Partido Socialista não diz uma única palavra,
sobre essa matéria, o Partido Socialista está calado. E isso, Sr. Deputado, preocupa-nos muito, porque esse
espírito europeísta de que o Sr. Deputado falava, de 40 anos do Partido Socialista, não me parece que exista
hoje tanto, porque nunca ouvi o Sr. Deputado, quando fala, e bem, dos populismos que perpassam pela Europa,
falar dos populismos que perpassam por Portugal, nomeadamente os populismos dos partidos com os quais o
Sr. Deputado tem, neste momento, uma coligação neste Parlamento.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — E essa ausência de referência a esta matéria no discurso do Partido
Socialista, que é tão grave e tão preocupante, deixa-nos seriamente preocupados.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Antes de passar a palavra ao próximo orador, a Mesa apela, e
voltará a apelar, às Sr.as e aos Srs. Deputados para que se criem condições de menor ruído na Sala, para
podermos trabalhar com condições mais adequadas.
Para uma declaração política, em nome do Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: As afirmações insultuosas do impronunciável
Presidente do Eurogrupo para com os povos do sul da Europa não são um ato isolado. Com maior ou menor
insolência ou boçalidade, continuamos a assistir quotidianamente às mais inadmissíveis pressões e ameaças
ao nosso País a partir de instituições diversas da União Europeia.
Anunciado que foi o cumprimento das metas do défice público em 2016 e considerada iminente a saída de
Portugal do procedimento por défice excessivo, logo veio o Banco Central Europeu, ou alguém por ele, dizer
que isso não era suficiente para tirar Portugal do radar das ameaças, na medida em que subsistem «desvios
significativos no défice estrutural». E a intolerável ameaça de sanções, que se julgava ter saído definitivamente
pela porta, volta a entrar pela janela, agora com o pretexto dos desequilíbrios macroeconómicos e acompanhada
como sempre da ladainha repetitiva das «reformas estruturais».
Definitivamente, neste processo de chantagens e ameaças, parece que vale tudo. No fim da passada
semana, parece ter chegado a Portugal a teoria e a prática dos «factos alternativos», a propósito da
recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Parece que há quem queira que, ao contrário do que foi praticado,