10 DE MAIO DE 2018
37
Onde está a União Europeia dos direitos, vergada à realpolitik, quando os próprios governantes europeus
atacam os seus povos com atropelos à liberdade de imprensa ou aos direitos fundamentais?
A suposta União Europeia da liberdade deu lugar a coisas tão inaceitáveis como aos acordos com regimes
ditatoriais, como a Turquia, ou a um silêncio ensurdecedor sobre o que se passa na Catalunha, na Hungria ou
na Polónia.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, para este debate basta
de ingenuidade sobre um projeto que é cada vez mais opressor! Não devemos permitir que esta data passe sem
que haja uma reflexão séria sobre que projeto europeu existe e que consequências tem ele para as populações
que diz representar.
Vamos então a algumas perguntas que gostávamos que o Governo respondesse. Aceitará Portugal que o
próximo orçamento europeu seja um ataque à política de coesão e à política agrícola comum, desviando dinheiro
dessas verbas diretamente para programas militaristas? Aceitará Portugal que o projeto europeu seja o da
Europa-fortaleza, fechada sobre si mesma, militarizada, que dá prioridade às armas e a esta indústria e não aos
direitos humanos? Aceitará Portugal que a política humanitária europeia se continue a traduzir em pagamentos
ao regime ditatorial da Turquia para servir de muro na crise dos refugiados?
É este o choque de realidade que o novo quadro financeiro plurianual apresenta: rejeitar a convergência,
aprofundar a divergência e atropelar por completo a solidariedade.
Hoje não devemos celebrar em vão nem de continuar com a proclamação de intenções vazias ou de vir falar
em fábulas e histórias mitológicas, Srs. Deputados. O que devemos é ter a responsabilidade de perceber o que
se passa de mal e ter a coragem de mudar — mas mudar radicalmente! — em nome de um projeto de união
entre povos, de facto, e não em nome de um projeto que esmaga os povos por um capricho de poucos que
querem governar em nome do interesse de alguns.
Sabemos que, neste debate, PS, PSD e CDS estão juntos num projeto europeu que esquece os povos, que
implementa a austeridade e que militariza o nosso território, e para isso não contarão com o Bloco de Esquerda.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Muitíssimo obrigada, Sr.ª Deputada, redimiu a Sr.ª Deputada Margarida
Marques em termos de tempos, obviamente.
Tem agora a palavra o Sr. Deputado Pedro Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Só mesmo em termos de
tempos!
Risos.
Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Comemoramos hoje o Dia da Europa com tudo o que isso representa
e, ainda assim, não são poucos aqueles que perguntam se teremos, de facto, motivos para o assinalar. É por
isso que, 68 anos depois, não podemos esquecer nem devemos negligenciar a razão principal da integração
europeia, a convivência pacífica entre Estados, a construção de um projeto social, político e económico, e esta
perspetiva é indispensável para contrariarmos análises que são meramente conjunturais ou pontuais.
Alcançámos muito nestes 68 anos. A Europa é um espaço de paz, de segurança, de justiça, de inclusão
social, um espaço de bem-estar que é ímpar no mundo. Apesar de algumas contrariedades mais recentes, a
Europa continua a ser o continente da liberdade e das liberdades, da livre iniciativa, da livre-circulação, do
respeito pelos direitos únicos e inalienáveis que são constantes à nossa natureza humana. Por mais de 70 anos,
a Europa continua a ser o garante da paz, o garante da autossuficiência alimentar de quase 500 milhões de
pessoas e, também, o garante das liberdades políticas e sociais a muitos povos que as viram negadas pelas
duas piores formas de totalitarismo que o mundo conheceu.