I SÉRIE — NÚMERO 97
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Aliás, poderíamos também falar de outros assuntos, como, por exemplo, da contagem do tempo integral dos
professores, da TAP, mas esta contradição é insanável e é mais um triste episódio da cartilha marxista ou,
melhor dizendo, da cartilha trotskista do Bloco de Esquerda.
Nós sabemos muito bem como é que acaba o socialismo; o socialismo dura sempre enquanto existe o
dinheiro dos outros.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Hugo Costa.
O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Heitor de Sousa, este é um daqueles debates ricos
em populismo e em eleitoralismo fácil. Ironicamente, este debate, para o qual o Bloco de Esquerda tenta
contribuir de alguma forma, aparece requerido pelos mesmos partidos que efetuaram um enorme aumento de
impostos, os mesmos partidos que aumentaram o IVA sobre os combustíveis e que aumentaram o ISP.
Aplausos do PS.
Será que todos já nos esquecemos do orgulho que o PSD e o CDS — sim, o Governo de que o Sr. Deputado
Pedro Mota Soares fazia parte — tinham em dizer que o que era importante era ir além da troica e colocar mais
impostos sobre os portugueses.
O Sr. Deputado não acha estranho que este debate seja requerido pelos mesmos partidos, nomeadamente
o CDS, mas também pelo PSD, que também na área da energia deixaram propositadamente 800 000 famílias
fora da tarifa social da eletricidade por não quererem fazer um despacho? O Bloco de Esquerda não acha isto
estranho? Quem é que foi beneficiado pelo facto de 800 000 famílias não terem tarifa social de eletricidade?
Em relação ao mercado dos combustíveis, obviamente que as alterações climáticas obrigam-nos a olhar o
tema futuro, mas não é isso que hoje aqui se coloca.
O Partido Socialista está ao lado dos consumidores na procura de medidas para mitigar os impactos dos
preços dos combustíveis nas famílias, aumentando a sua qualidade de vida. Não acha o Sr. Deputado que esta
era uma discussão que devia ter sido feita em matéria de Orçamento do Estado? Aliás, ainda há três semanas
ou há um mês o Bloco de Esquerda, pela voz do Sr. Deputado, disse, aqui, nesta Câmara, que este debate
devia ser feito em sede do Orçamento do Estado para o próximo ano.
Vozes do PS: — Exatamente!
O Sr. Hugo Costa (PS): — Estranhamos a sua proposta e estranhamos a proposta do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
No ano de 2009, foi efetuado pela Autoridade da Concorrência um estudo intitulado Análise Aprofundada
sobre os Setores dos Combustíveis Líquidos e do Gás Engarrafado em Portugal, onde, entre outros temas,
foram analisados os preços médios de venda ao público antes de impostos e a forma como não eram
repercutidas as baixas que tinham lugar nos mercados internacionais.
O Bloco de Esquerda, ao colocar neste debate somente a esfera fiscal, não acha que o debate está
incompleto? Não seria altura de fazermos um debate concreto sobre as margens do negócio? Se esta é uma
questão apenas fiscal, como podem as margens, segundo o último estudo da Autoridade da Concorrência, terem
subido nos últimos três anos?
Uma última e importante questão: porque é que será que a direita apenas coloca o debate na parte fiscal? O
Bloco concorda que o debate é apenas na parte fiscal? É que, ao contrário de outros partidos que apresentam
projetos de resolução, o Bloco de Esquerda apresenta um projeto de lei apenas focado na matéria fiscal. Será
que é apenas matéria fiscal?