17 DE SETEMBRO DE 2020
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Estamos perante uma incoerência total entre o sufragado pelos eleitores e o negociado nos corredores do
Parlamento, uma inércia absoluta de um Governo que se vê obrigado a simular crises políticas para aprovar
Orçamentos, sem mostrar qualquer iniciativa.
Pelo caminho, aqui estamos, Srs. Deputados, a discutir um País imaginário, que só existe no papel, para não
falarmos do País real, onde a crise, que verdadeiramente chegou, não se resolve com consultores, documentos
encadernados e floreados ideológicos. Contem com o CDS na oposição, Srs. Deputados, para discutir o País
real e não as sessões de propaganda.
Termino como comecei, lembrando a velha regra socialista: os socialistas, quando não querem falar do que
não fizeram, lançam grandes debates daquilo que nunca farão. Fazem-no perante uma pandemia e uma crise
sem precedentes, é apenas mais uma irresponsabilidade.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — A Mesa regista seis inscrições para pedidos de esclarecimento. Pergunto ao Sr. Deputado como deseja responder.
O Sr. João Gonçalves Pereira (CDS-PP): — Em dois grupos de três, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Muito bem. Começo por dar a palavra ao Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal, para pedir
esclarecimentos.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado João Gonçalves Pereira, muito obrigado por trazer este tema ao debate de hoje, no Hemiciclo.
Ontem, na apresentação pública da versão definitiva da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação,
tivemos ocasião de voltar a ter não a apresentação de um documento técnico ou sequer estratégico, mas uma
descarada sessão de propaganda cheia — além de citações isotéricas — de elogios a ministros e a primeiros-
ministros, altos elogios a paraministros, suponho, e ainda esse desafio de reconhecimento das derrotas
históricas já não sei de quem, ultraliberais que não querem Estado nem serviços públicos em lado nenhum.
Eu não conheço ninguém assim! Não era, certamente, para o Iniciativa Liberal, que quer um Estado pequeno,
sim, mas forte, e quer serviços públicos da mais alta qualidade, não necessariamente prestados pelo Estado.
No mais, repete aqueles que já eram os defeitos da versão inicial, um catálogo de ideias em nove eixos
estratégicos — nove! Se alguém conseguir gerir nove prioridades na sua vida, tiro-lhe o chapéu. Mas nem isso
chegava e acrescentou mais um, pois alguém no comércio e no turismo não se achou representado. Portanto,
ficaram 10 eixos estratégicos e, deixem que vos diga, quanto ao turismo, que conheço relativamente bem, as
ideias não são boas.
Depois, do princípio ao fim, temos um elogio ao estatismo e ao dirigismo, que é de uma miopia atroz.
O País — e o mundo, diga-se de passagem — vai entrar numa fase onde a imaginação e a criatividade de
todos não vão ser suficientes para encontrar os novos caminhos que vão ser precisos para o progresso e para
o desenvolvimento.
E o que é que este plano faz? Entrega nas mãos do Estado tudo e mais alguma coisa! E hoje, aqui em
Comissão — uma audição que, diga-se, foi recusada à Iniciativa Liberal há dois meses, porque neste Parlamento
não havia assessores, não havia não sei o quê, e agora o PS pede, com caráter de urgência, a audição do
mesmo assessor! —, o Prof. Costa Silva veio dizer que a função pública não está preparada nem tem o hábito
de dar seguimento e implementação às decisões políticas que são tomadas.
Portanto, perante isto, Sr. Deputado, a pergunta é esta: não acha que esta visão estratégica se assemelha
cada vez mais a uma miragem poética, que está condenada a decorar uma prateleira qualquer e ter zero efeito
prático?
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias, do PCP.
Faça favor, Sr. Deputado.