I SÉRIE — NÚMERO 1
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado João Gonçalves Pereira, em primeiro lugar, não podemos deixar de registar que a forma e o percurso que nos trouxeram a este
documento, com o Governo a recorrer a uma personalidade exterior, dizem muito do caráter episódico e
casuístico para onde foi atirada ao longo dos anos a capacidade de planeamento estratégico do Estado
português.
Está bem à vista o resultado das políticas de tantos anos, de que o CDS, aliás, sempre foi defensor
entusiasta, de desmantelamento da Administração Pública, desvalorização dos seus serviços e desrespeito
pelos seus profissionais. Não admira que seja nessa lógica de recurso externo que o CDS se sinta em casa,
sendo depois nas opções que diverge no concreto.
Mas também não admira que o CDS procure manter intocados os pressupostos e as opções que têm
condicionado e impedido o desenvolvimento nacional e que estão na base das desigualdades e injustiças que
marcam a sociedade e o território.
Sr. Deputado, não basta enunciar propostas e objetivos, alguns dos quais há muito sinalizados pelo PCP,
que não são, em si mesmo, contestáveis. A questão decisiva está em saber como e ao serviço de quem esses
objetivos se devem concretizar. É preciso saber se ao necessário aumento da riqueza produzida está também
associada a sua justa distribuição, ou se, pelo contrário, ela concorrerá para uma ainda maior desigualdade na
repartição entre capital e trabalho; se a exploração dos recursos naturais tem como objetivo a sua integração
numa estratégia soberana ou se se destinará a abrir um novo campo de domínio monopolista e predador dos
recursos; se o investimento anunciado tem como objetivo dinamizar a economia nacional, o aparelho produtivo,
a criação de emprego com direitos, ou se é apenas um passo para drenar milhões de euros de fundos
comunitários para os grupos económicos nacionais e, sobretudo, estrangeiros.
A solução para os problemas nacionais não passa por uma política de direita retocada ou maquilhada por
meia dúzia de ideias que há muito deveriam estar concretizadas. Há que fazer opções de fundo colhendo as
lições da atual situação.
Portugal precisa de pôr em marcha um verdadeiro programa de desenvolvimento, não com os critérios e
agendas escolhidas e orientadas pelas grandes potências da União Europeia para servir os seus interesses e
os interesses das multinacionais, mas, sim, para servir, acima de tudo, o interesse nacional, para servir o povo
e o País.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para formular pedidos de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Filipa Roseta, do PSD.
Faça favor, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Filipa Roseta (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, realmente, em matéria de obras públicas, habitação e infraestruturas, o Prof. António Costa Silva reúne tudo num único documento de 140
páginas. Mas a verdade é que já estava tudo dito. Foi tudo reafirmado, voltaram a dizer… Mas o que é que falta?
Falta fazer! Falta fazer!
O Sr. Adão Silva (PSD): — Exato!
A Sr.ª Filipa Roseta (PSD): — Este Governo demonstra uma gritante incapacidade de execução como não há memória. E o que lhe pergunto, Sr. Deputado, é por que razão acha o senhor que este Governo tenha
tamanha incapacidade de execução. Eu penso nisto! Qual é a razão? É que não é por falta de dinheiro.
Vejam bem: na habitação tinham 800 edifícios públicos vazios, tinham 50 milhões de euros orçamentados e
executaram 7 milhões de euros! E quantos fogos? Zero, zero!
Não foi sempre assim. O Eng.º Ferreira do Amaral, num ano, desenhou um programa com fundos
comunitários que produziu 2000 fogos por ano, no Governo de Cavaco Silva!