17 DE SETEMBRO DE 2020
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mais longos de trabalho, excesso de trabalho, falta de condições de segurança e proteção e até abusos no
teletrabalho.
O documento revelou igualmente alguns aspetos que são particularmente preocupantes — uma parte dos
inquiridos, aproximadamente 4%, revelou ter estado numa situação de grande vulnerabilidade, com dificuldade
em fazer face às suas necessidades básicas diárias — e concluiu que existem, atualmente, jovens a viver abaixo
da linha de pobreza em Portugal. Esta realidade não nos pode deixar, a nenhum e nenhuma de nós, indiferentes.
Para o PAN, não restam dúvidas de que o momento presente exige a implementação de políticas públicas
direcionadas aos jovens, pensadas, criadas e investidas precisamente para eles.
Precisamos de ter respostas assertivas a nível do acesso à educação, ao trabalho e à habitação, mas
também à cultura e ao direito ao ambiente. E precisamos de fazê-lo já, com respostas robustas e estruturadas
e não com as mesmas soluções gastas, ultrapassadas e obsoletas do passado, que fizeram com que, mesmo
antes da crise sanitária e com a economia em recuperação, a taxa de desemprego jovem fosse superior à da
população em geral, com os jovens empregados a terem, na sua maioria, vínculos de trabalho frágeis que não
ofereciam quaisquer perspetivas de futuro.
Não podemos continuar a dizer aos jovens que o melhor que temos para lhes oferecer são estágios não
remunerados ou com valores tão baixos, e financiados apenas com dinheiros públicos, que, mesmo que
cumpridos com o máximo de profissionalismo e competência, terminam sempre na fila do desemprego.
O mesmo se passa com os nossos investigadores que, ao fim de seis anos, são forçados a ir para outros
países, desperdiçando Portugal todo o seu potencial e o investimento efetuado.
Não podemos continuar a ser um país onde os contratos sem termo são afinal o pote vazio no fim do arco-
íris, a que os jovens nunca conseguem, de facto, chegar, mesmo sendo a geração mais qualificada de sempre.
Não podemos pedir aos jovens que continuem a adiar o sonho de uma casa própria ou da construção de
uma família. Ao fazermos isso — não tenhamos ilusões! —, continuamos a falhar como Estado, continuamos a
falhar como democracia.
É por isso mesmo que, na discussão do Orçamento que se aproxima, daremos continuidade à nossa política
de propostas direcionadas aos jovens, como foram as que criaram o mecanismo extraordinário de regularização
de dívida por não pagamento de propinas em instituições de ensino superior públicas, aprovada na Sessão
passada, ou a estratégia para a integração dos jovens NEET (not in employment, education or training), que,
infelizmente, foi chumbada no último Orçamento do Estado, ou a que apresentámos na semana passada, no
sentido de assegurar uma formação profissional, no âmbito do IEFP (Instituto do Emprego e Formação
Profissional), adequada às qualificações e expectativas dos jovens que dela beneficiem.
Mas hoje, nesta declaração política, há uma medida, em particular, que gostaríamos de destacar a este
tempo: a da provedoria das gerações futuras.
É ilusório pensar que existe um futuro, se não formos capazes de assegurar a sustentabilidade do planeta,
por um lado, e também, obviamente, os direitos das gerações futuras. Estas questões não podem ser meramente
proclamatórias. De pouco serve criarmos boas políticas para os jovens de hoje, se as mesmas hipotecarem a
sua vida e a daqueles que se lhes seguirão no amanhã. Infelizmente, a História tem-se encarregado de nos
demonstrar que existe sempre uma despreocupação com o longo prazo, que o imediatismo das políticas não se
compadece com as necessidades dos cidadãos que ainda estão para vir.
É justamente para assegurar que as políticas de hoje estão alinhadas com as expectativas do amanhã e
respeitam as futuras gerações que o PAN apresentará esta iniciativa, tendente à criação da provedoria das
gerações futuras. Esta figura tem o potencial de ser um órgão do Estado ao qual os cidadãos se podem dirigir
para defender os seus direitos, liberdades e garantias ou os seus interesses legítimos, se e quando sentirem o
seu futuro ameaçado, situação, esta, que está, desde já, mais do que gritantemente traçada, seja pelas
evidências científicas, seja pelos jovens que, nas ruas, se manifestam.
Trata-se de uma proposta que está alinhada com o princípio da justiça intergeracional, que tem de estar
presente em todas as políticas, e que não preclude nem limita as políticas atuais, pelo que esperamos que possa
merecer um amplo consenso nesta Assembleia.
Sr.as e Srs. Deputados: Os próximos tempos serão particularmente desafiantes para todas e todos nós, mas,
porque são os jovens que vão também arcar com os resultados das nossas decisões, é justo que tenhamos
para com eles um olhar atento e um cuidado especial.