I SÉRIE — NÚMERO 1
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Portanto, Sr. Deputado, devolvo-lhe o desafio que aqui colocou, esperando que, desta vez, o PSD não rejeite
as propostas do PAN, nomeadamente nesta matéria.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, quero, antes de mais, cumprimentar a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, do PAN, por ter trazido um tema que poucas vezes é discutido no Plenário,
mas que tem um impacto brutal na vida de milhões de pessoas das gerações mais novas do nosso País.
Estamos a falar, justamente, de um período histórico, de uma geração que já viveu duas crises, que já teve
dificuldades no seu percurso académico por mais do que uma vez e que tem problemas estruturais que não
estão resolvidos, desde a habitação ao alojamento estudantil, do acesso à saúde à educação como um direito,
do emprego com direitos e de todos os direitos individuais que têm sido uma das lutas que o Bloco de Esquerda
trouxe, desde que existe, ao Parlamento.
Se é verdade que a relação do Estado com a juventude é tanto melhor quanto maior for a sua capacidade
de resposta ao nível das garantias de direitos materiais muito concretos, também é verdade que a Assembleia
da República e os Governos têm um papel essencial nisso. Se critica — e bem, porque acompanhamos essa
visão — que não podemos continuar numa lógica de políticas públicas para a juventude, o que é um bocadinho
mais do mesmo, também nos cabe a nós fazer uma análise e ter uma visão crítica sobre a criação de mais uma
provedoria, de mais um gabinete. Exatamente para quê?
Não vamos obstaculizar nenhuma proposta que aumente a nossa proximidade e a proximidade de um
conjunto de pessoas que têm um papel histórico e social muito importante, mas, ao mesmo tempo, hoje,
precisamos de discutir o SNS, precisamos de discutir o ensino superior público para todos, precisamos de
discutir a habitação. São esses temas que vão reaproximar as gerações mais novas de um futuro mais digno e
do papel do Estado no século XXI, e esse é que é o debate que temos hoje.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Monteiro (BE): — Sr. Presidente, vou já terminar. Na Assembleia da República dividem-se — e bem, porque é isso a democracia — em duas as visões
fundamentais. De um lado, uma que acha que o Estado é, na verdade, um monstro que em nada vai ajudar a
uma capacidade maior de os jovens se emanciparem; e do outro lado, que é onde estamos, a visão de um
Estado mais forte e mais capaz para responder às crises do capitalismo que vivemos.
Sr.ª Deputada, precisamos de perceber onde é que o PAN se situa neste debate.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Alma Rivera, do PCP, para pedir esclarecimentos.
A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Sr. Presidente, antes de mais, queria saudar a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, bem como o PAN, por trazer este tema a debate. Este é, de facto, um tema de extrema importância, porque
os problemas que atingem a juventude são muitos e são graves.
O País precisa da juventude e a juventude precisa de novas receitas e de novas políticas. O que temos tido
— a degradação das escolas e do próprio ensino, maltratando professores e funcionários, a elitização do ensino
superior, a demissão do Estado face à ação social escolar, a demissão face ao desígnio de garantir uma
educação pública gratuita, democrática e de qualidade — são velhas políticas e não servem a juventude. Aquilo
a que a juventude está votada, em termos de trabalho, é ao desemprego, à total desregulação dos horários, à
falta de segurança, aos falsos recibos-verdes e às empresas de trabalho temporário. A precariedade do trabalho
e a precariedade da vida são políticas do passado que têm de ser ultrapassadas.