17 DE SETEMBRO DE 2020
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Queremos uma política nova para a juventude? Queremos. Então, é preciso assegurar habitação às novas
gerações. Os jovens têm de ter casa, estabilidade e salários dignos para construírem o seu projeto de vida e
para constituírem família, se assim o desejarem. É assim que se combate a pobreza.
É preciso olhar às lições da pandemia? Sim, é preciso. Então, o País precisa da juventude para avançar e a
juventude precisa de outras políticas, o que passa por algo que muitos não querem que se diga porque é a exata
antítese do que têm feito. É a importância do trabalho e a necessidade de valorizar os profissionais dos mais
variados setores, de contratar jovens e de lhes garantir direitos.
Se não fosse tão fácil despedir, Srs. Deputados, se não tivessem chumbado a proposta do PCP de proibição
dos despedimentos durante a pandemia e se, em simultâneo, apoiassem as pequenas empresas em vez de
apoiarem as grandes, o desemprego jovem não seria hoje de 25%.
O País precisa de uma saúde de ferro, de um SNS dotado de meios, de responder à saúde mental das novas
gerações, sobretudo em consequência deste período.
Para o PCP, está mais do que evidente que o caminho é cumprir a Constituição, todos os dias, e, por isso,
gostaria de perguntar à Sr.ª Deputada se, desta vez, contamos com o PAN para acabar com as propinas.
Sr.ª Deputada, será essa provedoria que irá tomar as opções necessárias para valorizar a escola pública,
investir na produção nacional e na criação de emprego de qualidade, reverter as normas gravosas da legislação
laboral e combater, efetivamente, a precariedade?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, desde já, queria agradecer a ambos os Srs. Deputados pelas questões que deixaram e, obviamente, pelos contributos nesta matéria, que são sempre bem-vindos.
Em relação à análise e à visão crítica que cada um de nós tem nestas matérias, e respondendo em particular
ao Sr. Deputado Luís Monteiro, nomeadamente quanto à questão da provedoria, relembro que esta é uma figura
de elevada confiança dos cidadãos, de génese histórica, que tem um papel fundamental, por ser imparcial e
independente, no garante dos seus interesses legítimos. Nesse sentido, porque, apesar de reclamarem pelos
seus direitos, sentimos que os jovens nem sempre são ouvidos ou nem sempre existe o acompanhamento e o
investimento necessários para dar satisfação às suas pretensões, é efetivamente necessário haver uma figura
que possa, de alguma forma, representá-los e dar voz às suas preocupações.
Mas há temas em que, obviamente, partilhamos as mesmas preocupações que o Sr. Deputado elencou e
que a Sr.ª Deputada Alma Rivera também referiu, nomeadamente em matéria de combate à pobreza. É com
muita preocupação que continuamos a ver a vulnerabilidade desta parte da população, sendo fundamental
combater de forma estrutural o que continua a impedir o acesso à habitação, à educação, à saúde e a uma
valorização profissional digna, do ponto de vista remuneratório, para que, constantemente, não estejamos a
penhorar os sonhos e o futuro das presentes e futuras gerações.
Acrescentava ainda o direito ao ambiente. De facto, o Orçamento do Estado e o Plano de Recuperação
Económica vão ser momentos-chave para podermos garantir que Portugal faz uma viragem de política em
matéria de sustentabilidade para um desenvolvimento económico que não esteja assente no extrativismo e no
produtivismo que penhoram a qualidade de vida e os interesses das gerações presentes e futuras.
Há também um debate que nos temos furtado de fazer, que é o da própria sustentabilidade da segurança
social, que poderá pôr em causa aquilo que, quando é necessário, não só é um respaldo para os jovens como
também para quem esteja desempregado e possa ter acesso a uma formação direcionada para uma integração
profissional.
Em relação ao pacto intergeracional e também às questões que o Sr. Deputado colocou sobre as propinas,
obviamente que o ensino superior tem de ser tendencialmente gratuito e proporcional às necessidades
socioeconómicas de cada pessoa. O PAN estará disponível para continuar a defender esse mesmo sistema e,
acima de tudo, um sistema de educação de qualidade e que não se coaduna com visões absolutamente
obsoletas, que não começam apenas na juventude mas também na mais tenra idade e que, muitas vezes, põem
em causa conteúdos formativos, como a questão da educação para a cidadania.