I SÉRIE — NÚMERO 1
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Portanto, temos um longo caminho pela frente se, de facto, queremos proteger as nossas crianças e os
jovens, em particular, como falámos neste debate, porque neles reside não só o futuro como o direito, que
obviamente lhes é devido, de não terem uma fatura que não terão como pagar nas próximas décadas.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Para a última declaração política de hoje, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Entramos hoje numa das fases mais difíceis do combate à pandemia e, quando o fazemos, somos chamados a apreciar e a aclamar um programa,
apresentado com grande pompa e circunstância, que mais não é do que um elogio pseudofúnebre aos membros
deste Governo.
Ouvimos o autor de um programa de renovação elogiar Ministros do Governo, como se fosse seu empregado,
elogiar o Primeiro-Ministro, como se fosse seu funcionário, quando o País atravessa a mais brutal crise da sua
história, talvez a mais brutal crise das nossas vidas.
No meio disto, António Costa chama cobardes aos médicos. Em on ou em off, em off ou em on, o sentido é
exatamente o mesmo. É o sentido de um profundo arrependimento e desilusão com um Primeiro-Ministro que
lhes ofereceu a Champions e que agora diz que foram cobardes na luta contra a pandemia. Nada pior.
Em julho tínhamos quase meio milhão de desempregados. Meio milhão! O cenário que aí vem será o mais
disruptivo das nossas histórias e todos — repito: todos! — teremos de estar à altura dessa responsabilidade.
Em algumas regiões, como as do Algarve, há mais de 200% de desemprego para um Governo que olhou para
o lado e se esqueceu da existência do Algarve como região, se esqueceu da existência dos Açores, se esqueceu
da existência de Lisboa e se esqueceu da existência da região Norte. E agora, com o desemprego a galopar,
vão de mão estendida pedir os subsídios que a mesma classe média de sempre pagou e continua a pagar, neste
País de mão estendida à Europa.
No meio disto, o «Ronaldo das Finanças», Mário Centeno, já não está nesta tribuna, nem na tribuna do
Governo, para poder responder à maior crise das nossa vidas. Está no Banco de Portugal, numa «reforma
dourada». Mais: quando saiu em defesa de alguém, imaginem de quem foi? Saiu em defesa do Novo Banco. O
tal «Ronaldo das Finanças», o homem que iria resolver todos os nossos problemas, o mágico dos mágicos, o
grande orientador, o grande camarada socialista deixou-nos sozinhos a caminhar por uma crise inimaginável.
No meio disto, os lares vivem a maior crise da sua história. O caos que se vive nos lares portugueses não é
equiparável ao que se vive em nenhum ponto da Europa e hoje soubemos que o inquérito enviado à segurança
social foi feito antes de começar a pandemia. O Governo que disse que enviou todos os esclarecimentos ao
Ministério Público é o mesmo que se esqueceu de dizer que o inquérito tinha sido feito a 11 de março, quando
ainda não havia pandemia e quando ainda não havia absolutamente nenhum caso registado em lares. Que
vergonha de Governo!
Que vergonha de Governo, que, quando mais precisamos dele, se refugia em crises políticas na esperança
de se ir embora. Mas os seus amigos nem sequer o deixam ir embora, porque, neste momento, têm tanto medo
de eleições como o gato tem da água. Por isso, ninguém tenha dúvidas de que, enquanto estas bancadas vão
chumbar o Orçamento, aqueles que andaram sempre a atacar o Governo e a dizer «queremos mais professores,
queremos mais médicos, queremos mais enfermeiros, queremos mais gravatas, queremos mais fatos, calças e
sapatos, queremos tudo», quando chegar o dia da votação, vão estar lá a viabilizar o Governo de António Costa.
Não porque gostem de António Costa, mas porque têm medo de ir a eleições neste momento, sabendo bem
qual seria o sentido de voto dos portugueses. Se não o fizerem e tiverem essa coragem, cá estaremos para a
louvar.
Tenho as maiores divergências com o Dr. Ferro Rodrigues. Hoje não está aqui connosco, mas poderia estar.
Hoje, dar-lhe-ia um abraço, um abraço sentido, porque teve a coragem de, no final de uma reunião à porta
fechada, ou melhor, semifechada, dizer: «O Governo não aprendeu nada com o caos nos lares». Parabéns, Dr.
Ferro Rodrigues! Eu, que um dia me insurgi contra si, estou hoje a dar-lhe este grande abraço, por meio deste
ecrã. Espero que esteja a ver, porque, de facto, teve a coragem que outros socialistas não tiveram: a de tocar
no ponto, quando este devia ser tocado.