I SÉRIE — NÚMERO 2
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n.º 1-A/2020, de 19 de março) e 488/XIV/1.ª (PCP) — Alarga o regime extraordinário de proteção aos
arrendatários até 31 de dezembro de 2021 e define o prazo para entrega de candidaturas para apoio financeiro
do IHRU até 31 de dezembro de 2020.
Para abrir este debate, tem a palavra o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, através da Sr.ª Deputada
Maria Manuel Rola.
A Sr.ª Maria Manuel Rola (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Este projeto que aqui apresentamos é simples e não é novo, pois já o fizemos quando discutimos as medidas de apoio e de mitigação
desta pandemia.
Propomos prolongar os prazos dos contratos de arrendamento. Não, não estamos a falar de moratórias e
também não estamos a falar de perdão de rendas, mas de prazos de contratos prolongados nos mesmos termos
iniciais.
Traduzo para miúdos, a suspensão que agora vigora, até ao dia 30 de setembro, passará a estar em vigor
até ao final de 2020. Isto ocorre de duas formas: para quem já recebeu ou venha a receber a comunicação de
fim de contrato ou de desocupação, dentro do previsto legalmente, só terá de sair da casa a partir de 1 de janeiro
de 2021; já os contratos que se encontram perto do fim são, também eles, estendidos até dia 1 de janeiro de
2021.
Na prática, para resumir, todos os contratos a prazo são estendidos e sê-lo-ão apenas até ao final do ano de
2020. Porquê? Porque existem várias razões, desde logo de higiene, de saúde pública e de condições para o
confinamento. Se todos sabemos que devemos lavar as mãos, manter o distanciamento, usar a máscara,
respeitar a etiqueta respiratória, também sabemos que devemos manter-nos em casa sempre que possível e
que, se tivermos contacto com alguém infetado, ficar em casa torna-se mesmo obrigatório.
Ora, com o crescimento do número de casos, não podemos dar-nos ao luxo, enquanto sociedade, de
intensificar a crise na habitação e a exposição ao vírus. É simples e sensato. Mas existem também razões de
estabilidade de vida e de saúde dos inquilinos, num momento de perda de rendimentos. Sabemos que a descida
dos valores das rendas não tem sido, nem de longe nem de perto, tão acentuada quanto a quebra de
rendimentos. Em julho, tínhamos já cerca de 636 000 pessoas em situação de desemprego. Destas, apenas
220 000 teriam acesso a apoio decorrente desta condição.
Falamos, para além disto, de centenas de milhares de trabalhadores que estiveram em layoff, de
despedimentos coletivos que ocorreram e a ocorrer, de atividade zero ou extremamente reduzida no caso de
precários e de prestadores de serviço, de fim de contratos de trabalho a prazo, tendo estes últimos sido os
primeiros a sofrer devido à pandemia.
Podemos ver o exemplo do setor da cultura e nestes casos, e em tantos outros, fazer face às condicionantes
de fiança ou de seguro, a várias rendas adiantadas, à caução solicitada, como sabemos, num novo contrato de
arrendamento é simplesmente impossível, é um acréscimo brutal de despesa extraordinária que não decorre do
pagamento da renda fixa.
E é este o contexto, que não é assim tão diferente do de março, que nos chama a tomar medidas de proteção
dos inquilinos. Tanto mais que sabemos que cerca de 700 000 agregados mantêm contratos de arrendamento
e são, normalmente, os estratos sociais mais frágeis, mais precários e jovens aqueles que alugam uma casa ou
um quarto no mercado privado, porque não têm acesso fácil a crédito ou porque não têm sequer património
próprio. Neste momento, podem nem sequer ter rendimento próprio.
O acesso à habitação era já em si uma crise, que agora se agrava na alimentação da voracidade deste vírus,
que ele próprio se alimenta da falta de condições para a proteção de cada um de nós e de todos nós como um
todo. Agrava-se, ainda mais, pelo afundanço que representa a falta de emprego.
Já sabemos que, se queremos combater a pandemia, temos de apostar na saúde e num Serviço Nacional
de Saúde robusto. Mas não se enganem: temos também de garantir habitação digna, condições mínimas de
habitabilidade e não permitir que existam despesas avultadas a que as famílias não conseguem fazer face,
adensando o problema que têm agora de rendimentos.
Há muita gente, Sr.as e Srs. Deputados, que depende da rede que somos todos e todas nós. Não podemos
largar a mão.
Aplausos do BE.