I SÉRIE — NÚMERO 2
20
Este contexto coloca uma questão pertinente, a proteção dos arrendatários. E aqui há uma enorme diferença
entre aquilo que é a esquerda e as soluções da esquerda e as soluções da direita.
A esquerda quer que os proprietários e os senhorios assegurem a proteção dos arrendatários e dos
inquilinos, a direita entende que deve ser o Estado a suportar essa mesma responsabilidade. E devemos aqui
colocar uma pergunta, Sr.as e Srs. Deputados: foram os proprietários, foram os senhorios que trouxeram o
desemprego? Foram eles que trouxeram a pobreza? Foram eles que trouxeram a pandemia? Não, não foram.
Por isso, cabe ao Estado proteger, com os seus meios, aqueles que têm vulnerabilidade habitacional.
Proprietários e senhorios não têm de fazer aquela que é a ação social que cabe ao Estado. Tivemos anos,
tivemos décadas em que os proprietários e os senhorios tiveram de fazer esta ação social através do
congelamento de rendas quando não lhe cabia a si.
Todos sabemos que este contexto económico e social vai agravar-se. Nesta pandemia, os senhorios já
perderam muito rendimento e desses senhorios e desses proprietários não se pode exigir mais.
O projeto de lei do Bloco de Esquerda aplica-se a todos os contratos de arrendamento e não tem em conta
um requisito, um critério fundamental, que é a condição de recursos, ou seja, deveria aplicar-se àqueles que
mais precisam. Repito, esse projeto de lei aplica-se a todos os contratos de arrendamento.
Por isso, o projeto de lei do Bloco de Esquerda é lesivo para a propriedade privada, desprotege os
proprietários e tenta resolver um problema criando outro.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A proposta que nos é trazida hoje mostra duas coisas, aqueles que têm um profundo desconhecimento da realidade social e aqueles que querem, acima
de tudo, destruir o mercado.
O que temos hoje aqui é um conjunto de propostas que desprotege por completo os proprietários, a
propriedade privada e os senhorios. Torna-os quase como criminosos, num Estado em que têm sempre de
suportar mais impostos, e agora torna-os também os garantes da ação social.
Portugal é o País da Europa com mais taxação sobre os senhorios e a propriedade e, em termos
comparativos com a OCDE, onde mais se suporta os impostos sobre a propriedade. E o que nos trazem aqui,
hoje, é um projeto para que estas famílias, que também pagam impostos, porque são portuguesas como nós,
sejam agora responsáveis pela crise que vivemos. É como aqueles que criticam sempre o discurso do ódio,
mas, quando chega o momento de assacar culpas, dizem que são os mauzões dos proprietários e dos senhorios
que têm de assegurar os custos de todos nós que aqui estamos e deles também.
Foi sempre assim e há de sempre continuar a ser assim.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado. Já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. André Ventura (CH): — Vou concluir, Sr. Presidente. O projeto do PCP vai mais longe: diz que até ao fim do próximo ano os senhorios ficarão completamente de
mãos atadas. É o mesmo que dizer «destrua-se o mercado, nós continuaremos aqui a trabalhar».
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Márcia Passos, do Grupo Parlamentar do PSD.
A Sr.ª Márcia Passos (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Bloco de Esquerda e o PCP trazem a discussão a este Plenário propostas de alteração ao regime extraordinário e transitório de proteção dos
arrendatários.
Em concreto, falamos do regime especial que, por causa da pandemia COVID-19, justificou que se legislasse,
suspendendo os efeitos da cessação dos contratos de arrendamento até ao próximo dia 30 de setembro de
2020.