I SÉRIE — NÚMERO 2
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O Sr. Duarte Alves (PCP): — Os portugueses estão ainda a pagar as consequências dessa resolução, baseada numa mentira e depois agravada pela decisão, já do Governo PS, de privatizar a custo zero o banco,
entregando-o ao Lone Star, dando uma garantia pública de 3,9 mil milhões de euros.
Também aí se disse que a privatização, e cito o Primeiro-Ministro, António Costa, «não terá impacto direto
ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes».
Pois bem, a verdade é que os ativos abrangidos pela garantia estavam mal avaliados, o que permitiu à
administração registar perdas para ser o Estado a pagar. A verdade é que o limite dos 3,9 mil milhões de euros
não era uma mera baliza teórica, mas sim um valor que o Lone Star, desde o início, tudo fez para usar na sua
totalidade e, se possível, ultrapassar. Aliás, outra coisa não seria de esperar de um fundo com aquelas
características. A verdade é que, juntando a resolução às garantias da privatização, os portugueses já
enterraram no Novo Banco perto de 9000 milhões de euros.
Sejamos realistas: já pagámos a limpeza do banco, continuamos a pagar a limpeza do banco. E, se assim é,
se estamos a pagar a limpeza do banco com fundos públicos, então, não podemos admitir que, no final, o banco
seja entregue a um qualquer grupo privado, provavelmente a um grupo estrangeiro, em vez de ser assegurado
o seu controlo público.
É essa a oportunidade que o PCP dá com este projeto de resolução, ou seja, a oportunidade de a Assembleia
da República dar um sinal ao Governo de que existe vontade política para que, já que o pagamos, então, que o
banco seja colocado na esfera pública.
Se houver essa vontade política, podem ser muitas as formas de garantir esse controlo público e de colocar
o banco ao serviço do financiamento da economia nacional e do País, particularmente importante no momento
em que vivemos.
É essa opção de um Estado que se dá ao respeito que o PCP coloca em cima da mesa com esta iniciativa.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente: — Para apresentar o projeto de lei da Iniciativa Liberal, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O projeto de resolução que o PCP nos traz lembra-me aquele dito «para quem só tem um martelo, todos os problemas lhe parecem pregos»!
Sei que o PCP tem martelo e foice, mas, mesmo assim, todos os problemas lhe parecem pregos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Veja lá, não queira acabar no lugar do prego!
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Para o PCP, se há alguma coisa a resolver, a solução é sempre a mesma: nacionalizar; se há alguma coisa a melhorar, algum serviço ou algum regime, a solução é sempre a
mesma: mais Estado e só Estado. E, se o assunto mete banca, então, todo o furor marxista-leninista, não sei se
ainda estalinista, vem ao de cima e «como a banca é o coração do capitalismo, há que arrancar o coração da
besta!».
Lamento dizê-lo, mas o PCP tem a memória muito curta, porque a banca em Portugal, entre 1975 e 1985, foi
toda pública, foi toda nacionalizada…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — … e os resultados foram catastróficos! Ainda hoje estamos a pagar a descapitalização da banca e da economia dessa altura.
A Iniciativa Liberal não tem esse tipo de obsessões nem está agarrada a esse tipo de passado, não precisa
disso para sobreviver, e, por isso, vem aqui apresentar um projeto de lei que pretende prevenir a hipótese de o
Estado vir a participar diretamente no capital do Novo Banco, sem discussão e pela calada.
Na Lei n.º 61/2004, que pretendemos vir aqui alterar, o Estado atribui-se a si próprio direitos de conversão
de créditos relativamente a, por exemplo, imparidades. O Novo Banco teve a necessidade de utilizar esta
alternativa, porque senão não cumpriria os rácios. E isso levou-o a gerar imparidades que teriam sido muito