I SÉRIE — NÚMERO 19
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Nas escolhas que cá não estão, separam-nos o tempo e não o modo, face a um momento em que a prioridade
é ultrapassar a pandemia.
Por isso, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, temos pela frente os dias mais exigentes das nossas vidas.
Este é o momento de estarmos juntos, pelos doentes COVID e pelos doentes não-COVID, pelos profissionais
de saúde, pela confiança na ciência, pela luta contra o medo e a intolerância.
É isso que se espera de nós, é isso que o SNS espera de nós.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos à Sr.ª Ministra, 11 Srs. Deputados e a indicação que foi dada à Mesa foi a de que a Sr.ª Ministra responderá em dois grupos, um
primeiro de 5 Deputados e um segundo de 6 Deputados.
Assim, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, do CDS-PP.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.ª Ministra da Saúde, o ponto de partida deste Orçamento do Estado para a saúde é, inevitavelmente, a crise
pandémica, que hoje já não é um imprevisto.
Sabíamos que, sem confinamento, que ninguém deseja, e com a chegada do outono-inverno, a probabilidade
de aumento dos contágios era grande, e assim tem acontecido; que haveria um crescente número de
internamentos, quer internamentos hospitalares, quer em UCI (unidade de cuidados intensivos), o que tem, de
facto, acontecido.
Sabemos que há consultas, exames e cirurgias não-COVID por realizar, o que é reconhecido no texto do
Orçamento do Estado e na realidade, a que se acrescentam as listas de espera que já existiam previamente e
que ultrapassavam, largamente, os tempos máximos de resposta.
Era a isto, Sr.ª Ministra, que a ação governativa e o Orçamento do Estado deviam dar resposta.
No dia 21 de setembro, véspera do outono, a Sr.ª Ministra apresentou o Plano Outono-Inverno, totalmente
centrado no SNS, numa versão não consolidada, que também acabou por nunca ser consolidada, e da qual, na
verdade, nunca mais ouvimos falar.
Os números vão aumentando e também nunca mais ouvimos falar dos Srs. Secretários de Estado que tinham
sob a sua responsabilidade a coordenação regional da evolução dos números da pandemia. Seguramente,
andarão ocupados com outras coisas.
Apresenta agora o Orçamento do Estado, que, numas páginas do sumário executivo, diz que há um aumento
de 200 mil milhões de euros, noutras, mais à frente, há um aumento de 468, mas o que é facto é que o quadro
que refere quais são as transferências do Orçamento do Estado para o SNS mostra-nos que o aumento, este
ano, é zero, e é zero em ano de COVID.
Depois, aqui, temos tido este carrocel dos gráficos, com escalas bastante criativas — e, perdoem-me o inciso,
num Governo que tanto apregoa a transição digital, se calhar, não ia sendo má altura de projetar os gráficos nos
grandes ecrãs, porque não se conseguem ver e, afinal de contas, estamos aqui num anacronismo, mas também
não devem ser para nós vermos, porque isto é uma coisa entre os senhores e o Bloco e, portanto,
provavelmente, não é para termos de ver coisa nenhuma —, para nos dizerem que, desde 2015, houve um
aumento de 17% dos profissionais de saúde, mas nunca têm a seriedade de nos dizer que houve uma alteração
de monta, que foi a das 35 horas, e nunca nos dizem que muitos desses profissionais têm vinculações e não
contratações e, já agora, que, de facto, temos menos médicos no sistema do que tínhamos em janeiro, porque
o concurso de especialistas ou os concursos de medicina geral e familiar estão muito atrasados.
O Orçamento do Estado só fala no SNS e está tudo muito certo. Num dia, o Sr. Secretário de Estado Serra
Lopes vem dizer-nos que é mesmo assim, para estarmos descansados porque o SNS é elástico e, cinco dias
depois, vem a Sr.ª Ministra dizer-nos que a situação está a chegar perto do limite — e adivinhe-se porquê —
porque o SNS não é elástico.
Qual é a consequência que os senhores retiram desta gravidade? Sr.ª Ministra, onde é que está a task-force
prometida para a resposta não-COVID? Quando, no dia 4, chegarmos a esse limite da capacidade de
internamento, o que é que vai fazer? Vai montar tendas à entrada dos hospitais? Mas se, ainda por cima, 20%
dos profissionais de saúde estão infetados ou em isolamento profilático, quem é que vai cuidar das pessoas