29 DE OUTUBRO DE 2020
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de meios técnicos adequados. É, também, fundamental que os utentes que ficam horas à espera, no exterior do
centro de saúde, ao frio, ao vento e à chuva, tenham condições de conforto e dignidade.
Por isso, Sr.ª Ministra, a pergunta que lhe faço é a seguinte: que garantias dá o Governo de que este
Orçamento possa vir a responder com estas medidas urgentes e necessárias?
A suspensão da atividade programada levou ao adiamento de consultas, de cirurgias e de tratamentos,
criando, hoje, uma situação absolutamente desesperante para quem delas precisa. Essa suspensão representa,
claramente, uma falta de cuidados à população e é uma oportunidade de negócio para os estabelecimentos
privados do setor da saúde.
É necessário dotar o SNS, para recuperar tudo o que se perdeu. A luta contra o cancro é um exemplo. É
preciso rastrear e diagnosticar os muitos casos que estão por identificar e é preciso acompanhar os doentes
com doenças crónicas que descompensam, criando mais e novas necessidades.
Vai o Governo dotar o SNS de recursos humanos e de meios para responder à urgente e necessária
recuperação de todos os atos que ficaram sem resposta?
A rede nacional de cuidados continuados integrados e paliativos não responde às necessidades da
população, mas, sim, às das IPSS que se candidatam aos apoios financeiros para a sua criação e gestão.
Vai o Governo disponibilizar os milhares de camas em falta na rede, criando uma necessária resposta pública
que não existe?
Nos cuidados paliativos, vai o Governo colocar equipas no terreno e disponibilizar centenas de camas nas
novas unidades públicas de internamento?
E quanto à saúde mental, Sr.ª Ministra?! A saúde mental nunca teve um investimento de forma a responder
às necessidades reais da população. É necessário, Sr.ª Ministra, que a prevenção da doença mental seja uma
realidade a nível dos cuidados de saúde primários. Precisamos de equipas comunitárias de saúde mental que
não sejam apenas de projetos-piloto, mas que sejam efetivamente dotadas de profissionais para trabalhar no
terreno.
Vai o Governo, de uma vez por todas, fazer o investimento na saúde mental, concretizando, finalmente, o
Programa Nacional para a Saúde Mental?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, pelo PEV, a Sr.ª Deputada Mariana Silva.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, o Serviço Nacional de Saúde enfrenta um dos maiores desafios de sempre.
Apesar das preocupações do presente e apesar das dificuldades, é preciso sublinhar que o SNS esteve à
altura deste gigantesco desafio de resposta à epidemia, mas quem acusa verdadeiramente o cansaço são os
profissionais de saúde. Aquilo que acusa verdadeiramente o desgaste e a fragilidade são os poucos meios
disponíveis nos hospitais e nos centros de saúde.
Sim, o sucesso do SNS deve-se, sobretudo, ao reforço dos seus profissionais, que têm de ser valorizados
nos salários, com acesso ao subsídio de risco, com progressão na carreira e com vínculos efetivos, em vez da
perpetuação da precariedade.
Assim sendo, Sr.ª Ministra, não podemos deixar de lhe perguntar qual é a estratégia do Governo para
conquistar a confiança dos profissionais de saúde — dos médicos, dos enfermeiros, dos técnicos de diagnóstico
e de outros profissionais do Serviço Nacional de Saúde —, para que escolham, efetivamente, ficar no Serviço
Nacional de Saúde, porque o seu trabalho é reconhecido e são respeitados os seus direitos.
Um outro problema que está identificado é o da insuficiência dos serviços de saúde pública. Estes eram já
insuficientes antes da epidemia, mas isso hoje tornou-se gritante.
A pergunta é simples, Sr.ª Ministra: está, ou não, previsto para este ano o reforço dos meios humanos,
designadamente de médicos de saúde pública?
A resposta do Serviço Nacional de Saúde não pode apenas ser uma resposta eficiente à COVID-19. É
necessário que continue a ser uma resposta para as diversas doenças que não foram anuladas com o vírus.
Preocupa-nos, particularmente, a situação dos cuidados de saúde primários.