I SÉRIE — NÚMERO 19
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Verificam-se dois pesos e duas medidas: por um lado, consta na proposta de Orçamento do Estado para
2021 o montante das transferências de verbas para financiar novas competências das freguesias, discriminado
por concelho e freguesia, mas o mesmo não acontece quanto aos municípios, pois não aparece no orçamento
global nem aparece discriminado por município.
Não posso terminar, Sr. Presidente, sem realçar que as autarquias estão na linha da frente do esforço coletivo
para debelar os devastadores efeitos desta crise desencadeada pela pandemia. Este é um facto que não é
passível de ser ignorado. Também não podem ser ignoradas as nefastas consequências dessa ação nos
orçamentos e gestão financeira municipais, seja no curto, seja nos médio e longo prazos.
Se também os autarcas portugueses se manifestam de forma desfavorável a este Orçamento do Estado para
2021, mais um argumento, entre tantos outros apresentados, para o PSD votar contra. Mas, no mínimo, os
autarcas merecem mais do Governo.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Não havendo mais inscritos para intervir, podemos passar ao segundo ponto da nossa agenda de hoje, o encerramento da discussão, na generalidade, das Propostas de Lei n.os 60/XIV/2.ª (GOV) —
Aprova a Lei das Grandes Opções para 2021-2023 e 61/XIV/2.ª (GOV) — Aprova o Orçamento do Estado para
2021.
Para abrir esta fase final, tem a palavra o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Este debate orçamental, na generalidade, confirmou que a recuperação económica de
Portugal e a construção das bases para um País mais desenvolvido não é uma prioridade deste Governo, nem
do PS, nem da extrema-esquerda.
Nestes dois dias tivemos arrufos públicos na geringonça, tivemos uma barganha despudorada para se
agarrarem ao poder, tivemos exercícios de retórica pouco convincente. O que não tivemos foi um debate sobre
o que o País tem de fazer para iniciar efetivamente a recuperação e sair desta crise mais forte.
Só que estes arrufos e esta barganha têm custos bem reais para os portugueses. Para que a extrema-
esquerda volte para os braços do PS, o Governo está disposto a tudo. Só ontem, aqui, já concordou em rever a
abrangência da nova prestação social e antecipar o aumento das pensões para janeiro. Num só dia, mais de
300 milhões de euros de despesa adicional. Isto promete ser um maná, mas só para alguns.
Há dinheiro para clientelas eleitorais ou políticas; há dinheiro para investimento público de retorno inexistente
ou duvidoso; não há dinheiro para um plano concreto para recuperar os atrasos do SNS e salvar vidas, mas
enterram-se 1700 milhões de euros na TAP; não há medidas que estimulem o investimento privado, mas
reservam-se quase 800 milhões de euros para aumento das clientelas da função pública; não há, sequer, uma
tentativa de evitar a emigração de talento jovem, mas há dinheiro para obras faraónicas.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Portugal deixou de crescer sustentadamente há 20 anos, ou mais.
Enquanto outros países da União Europeia cresciam e se desenvolviam, Portugal estagnou e viu-se
ultrapassado. A pergunta é: porquê?
Será que os países que nos ultrapassaram têm gigantescos recursos naturais? Não têm. Será que não
estiveram sob ditaduras comunistas no século passado? Estiveram, sim senhor. Será que esses povos são mais
capazes do que nós? Não são. Pelo menos para o Iniciativa Liberal, não são.
A explicação para o nosso retrocesso é simples: temos demasiado Estado nas nossas vidas, nas nossas
empresas e na nossa sociedade. Um Estado pesado, caro, incompetente e gerador de dependências e
compadrios que impede os portugueses de darem o melhor de si.
A visão que o Iniciativa Liberal tem para Portugal é bem diferente. Porque confiamos nos portugueses,
queremos libertá-los das limitações excessivas que o Estado hoje lhes impõe.
Queremos um País com pessoas cada vez mais autónomas, menos dependentes de um Estado que devia
ser mais pequeno mas muito mais eficaz na proteção dos direitos e das liberdades dos portugueses.
Por isso, vamos apresentar as nossas propostas de cariz liberal durante a fase da discussão na
especialidade. Propostas para que o sistema de saúde dê resposta à pandemia sem esquecer as outras doenças