I SÉRIE — NÚMERO 19
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O Sr. André Ventura (CH): — Uma mão cheia de nada, que nos vai levar à maior crise das nossas vidas, e nós cá estaremos, como sempre, para a resolver.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e demais membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A discussão deste Orçamento acontece num período de grande exigência, com os
problemas sociais, económicos e ambientais a agravarem-se a cada dia que passa, sobretudo em virtude da
crise pandémica que atravessamos.
O desemprego não para de aumentar, a economia continua a patinar, as dificuldades para pagar as contas
do dia a dia das famílias são cada vez mais uma realidade e a pobreza instala-se. Instala-se e alastra, bate à
porta dos lares, cada vez mais e cada vez com mais intensidade, até à porta das pessoas que trabalham, porque,
apesar de haver forças políticas nesta Assembleia que são contra o aumento do salário mínimo nacional,
infelizmente, no nosso País empobrece-se a trabalhar.
É uma crise que exige respostas e opções que não deixem ninguém de fora do radar dos apoios sociais e
que dê sinais claros que apontem para a exploração dos recursos do planeta sem hipotecar os recursos do
futuro.
Diz-nos o bom senso que é preciso aprender com os erros do passado e, por isso, hoje, mais do que nunca,
se exige um Estado interventivo e determinado nos investimentos necessários, desde logo que não coloque a
cegueira do défice à frente das respostas necessárias de que os cidadãos precisam e que são fundamentais
para o desenvolvimento do País.
Por outro lado, esta crise convida-nos a olhar para ela como uma oportunidade de repensar as prioridades
que têm norteado as nossas vidas, a forma como vivemos, produzimos e consumimos e a forma como nos
relacionamos com a natureza. É, portanto, tempo de reequacionar este modelo económico, que assenta na
exploração desenfreada dos recursos naturais, que potencia elevados riscos para a saúde e que promove fortes
impactes ambientais, para além de aprofundar de forma dramática as desigualdades sociais.
A crise climática, a assustadora perda de biodiversidade e o uso insustentável de recursos naturais não
podem deixar de estar presentes nas preocupações de hoje. Também por isso, esta pandemia não pode servir
de desculpa para reduzir o investimento em áreas determinantes para garantir o equilíbrio ecológico, como seja
a conservação da natureza ou o setor dos transportes.
Não é, aliás, por acaso que Os Verdes insistem na necessidade de dotar o País de uma maior cobertura em
termos de transportes públicos, com maior relevância na ferrovia, e de alargar a abrangência do passe social,
mas também de favorecer a utilização de modos suaves de transportes, nomeadamente com a implementação
de uma rede nacional de ciclovias com ligação entre municípios e regiões.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, como temos afirmado desde o início, para Os Verdes seria
absolutamente determinante que este Orçamento, por um lado, não promovesse qualquer recuo relativamente
aos avanços que se conseguiram nos últimos anos e que, por outro lado, assumisse um combate determinado
à pobreza, que ganhou dimensões ainda mais preocupantes na sequência da pandemia. Ou seja, seria
determinante que este Orçamento promovesse um reforço substancial ao nível dos serviços públicos, em
particular na saúde, na educação e na justiça; uma aposta forte na nossa produção, com particular destaque
para a agricultura familiar e a canalização de meios para garantir a sobrevivência das micro e pequenas
empresas; e, por fim, uma resposta séria à crise climática que estamos a enfrentar.
Se é verdade que, a nosso ver, este Orçamento não promove recuos relativamente aos avanços que se
foram construindo, também é verdade que o que se perspetiva, tanto ao nível do reforço dos serviços públicos
como no combate à pobreza, fica muito longe dos mínimos desejáveis.
Quanto ao combate à pobreza, falamos dos milhares de trabalhadores que, no texto da proposta, ficam sem
acesso a qualquer apoio social, sobretudo os trabalhadores com vínculo precário e todo o universo dos
trabalhadores informais. Mas falamos também dos aumentos dos salários dos trabalhadores da Administração
Pública e dos valores das reformas, e aqui teremos de ter presente alguns dados com muita relevância nesta
matéria: por um lado, o facto de a devolução de direitos e rendimentos às famílias ter sido decisiva para o
desempenho da economia e, por outro lado, o facto de os salários dos trabalhadores da Administração Pública