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I SÉRIE — NÚMERO 19

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É também por isso que, mais do que nunca, o mantra «não deixar ninguém para trás» deve significar — sob

pena de se tornar num chavão estéril e para adornar cartazes e discursos — um forte compromisso com o

combate às desigualdades sociais e regionais, que ainda persistem, e às múltiplas formas de discriminação, em

particular da população socialmente mais vulnerável ou em situação de privação material, como as pessoas em

situação de sem-abrigo, as crianças, as pessoas idosas ou as mulheres.

Aqui chegados, não podemos negar que os impactos da crise são muitas vezes invisíveis e afetam de forma

desproporcional esta população, já para não falar no combate à violência doméstica, um flagelo que não

desapareceu e que importa prevenir e combater.

Outra matéria estrutural para o PAN, relativamente à qual este Orçamento se revela deficitário, prende-se

com a resposta a dar às legítimas preocupações dos jovens. Não é compreensível que uma das gerações mais

afetadas por esta pandemia, porventura aquela que tem mais a perder com a falta de perspetivas futuras, esteja,

senão totalmente, praticamente alheada deste Orçamento. Precisamos de dar aos jovens um sinal claro no

sentido de que o caminho da recuperação não vai ser o da precariedade, que foi precisamente o caminho que

os colocou numa situação de desproteção durante os últimos meses. Não podemos continuar a ter apenas para

oferecer aos jovens estágios profissionais encapotados de «primeiro emprego», quando os deveríamos estar a

apoiar e a lançar para uma vida profissional ativa, plena e com direitos.

Este Orçamento também não é para os jovens naquilo que respeita à crise climática, em parte devido a

opções que roçam a dissonância política e que se traduzem em preferências, como a prospeção de lítio em

áreas protegidas, a «estufização intensiva» da Costa Vicentina ou a construção de um novo aeroporto no

Montijo. Tudo opções do Governo que comprometem o futuro das próximas gerações e que estão em

contraciclo, como temos denunciado, com os valores proclamados no próprio Plano de Recuperação e

Resiliência e, pior, nos acordos internacionais firmados por Portugal.

Temos aqui ouvido, amiúde, que se este Orçamento contempla propostas no domínio do ambiente em muito

se deve ao contributo decisivo do PAN, o que, sendo verdade, não nos tranquiliza, Sr. Primeiro-Ministro,

justamente porque sabemos o quanto ainda há para fazer e o quão grande é a resistência para se darem os

passos necessários a uma eficaz descarbonização da economia e ao cumprimento das metas, não as que nos

autoimpusemos, mas aquelas que o planeta delimitou e que a ciência já há muito identificou.

Um País que se diz comprometido a combater a crise climática não pode, como tem feito, fechar os olhos a

quem mais polui, com o argumento de que a economia assim o exige. Mais: não pode esbanjar dinheiros

públicos a fomentar a poluição, para, depois, alocar mais recursos a corrigir essas más opções. Esta é a

perversão total das políticas públicas!

Bem sabemos que não é convidativo afrontar quem lucra com a depredação dos recursos naturais. Mas,

Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, estar comprometido com a descarbonização é isso mesmo:

não olhar a nomes na hora de aplicar políticas, que, mais do que necessárias, são absolutamente vitais.

É fundamental exigir mais, a este tempo, a quem mais continua ostensivamente a explorar os recursos

naturais e a poluir aquilo que é de todos nós, o nosso bem comum, esta casa comum que é o planeta e que é o

nosso próprio País, como sucede, por exemplo, com a pecuária intensiva e superintensiva.

É fundamental não incidir no erro de continuar a ver como uma resposta aquele que tem sido vendido como

a «galinha dos ovos de ouro» para o País — o turismo de massas — e que mais não tem sido do que um placebo

com que enfrentamos os nossos problemas.

O planeta não suporta, acima de tudo, tanto consumo, e a nossa economia também não, como a crise

sanitária fez questão de demonstrar.

O mesmo se aplica a um crescimento económico que teima em atropelar questões éticas que, a este tempo,

já deveriam estar mais do que ultrapassadas. Veja-se o exemplo do transporte de animais vivos, em condições

absolutamente degradantes, que, há muito, foram denunciadas e descritas como desumanas, ou a permissão

de que haja quem continue a divertir-se à custa do sofrimento animal, expondo até crianças e jovens à violência

grotesca da tauromaquia.

Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Primeiro-Ministro: Estamos perante a necessidade de

mudança de paradigma e de assentarmos o desenvolvimento do País em modelos mais sustentáveis e éticos,

não só do ponto de vista ecológico, como também do ponto de vista social. Mas, para tal, é preciso investimento

e compromisso. E o ponto de retorno é precisamente este, Sr. Primeiro-Ministro.