29 DE OUTUBRO DE 2020
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ No dia das eleições, há um ano, voltámos a propor ao PS um acordo escrito para a Legislatura. Sem surpresa, ouvimos a resposta de que a geringonça estava morta e de que o PS recusava
qualquer acordo.
A Sr.ª AnaCatarina Mendonça Mendes (PS): ⎯ Não! É falso!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ Propusemos esse acordo porque queríamos abrir um novo caminho, que respondesse aos maiores défices sociais.
O Sr. Porfírio Silva (PS): ⎯ Estamos a ver!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ Queríamos esse acordo porque esperávamos que o PS pudesse afastar-se do pacto com a direita e com os grandes patrões para manter a legislação laboral da troica. Desejámos esse
acordo porque Portugal precisa de políticas que tragam confiança e segurança para quem trabalha.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): ⎯ Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ O PS recusou, mas o Bloco não desistiu. Nunca desistimos. Não somos de desistir.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): ⎯ Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ O Serviço Nacional de Saúde tem sido a nossa prioridade. Não previmos a tormenta, mas conhecemos a realidade. Antes da pandemia, já sabíamos que eram precisos muito mais
profissionais, mais investimentos, mais meios de diagnóstico.
Viabilizámos o Orçamento do Estado que está em vigor, após vários acordos com o Governo, sobretudo para
reforçar o Serviço Nacional de Saúde, mas também para defender a escola pública, proteger os pensionistas
pobres, cuidar dos cuidadores.
Nenhum dos acordos foi cumprido no tempo certo, muitos foram pura e simplesmente esquecidos, e isso
ensinou-nos a sermos exigentes até ao detalhe das letras mais pequenas.
Mesmo depois das recusas e incumprimentos, nunca desistimos. Demos ao Governo tudo o que pediu a este
Parlamento nos últimos meses: no Orçamento do Estado para 2020, na emergência e no Orçamento
Suplementar, apoiámos todo o reforço de verbas e de meios e todas as condições que nos pediu.
Agora, o Governo pede-nos que viabilizemos o Orçamento do Estado para 2021 de olhos fechados. Apenas
porque sim. Porque se aprovámos antes, teremos de aprovar depois, mesmo que saibamos que o Orçamento
não responde à emergência da crise. Pedem-nos que votemos anúncios sem suporte. Isso sim, seria desertar
de Portugal. Não o faremos!
Vozes do BE: ⎯ Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ No Orçamento do Estado para 2021, temos de decidir como defender Portugal no próximo ano. E para um Orçamento ser de esquerda, não basta o Governo dizê-lo; tem de ter
políticas de esquerda, soluções de esquerda. Bem sei que foram sempre limitadas as aproximações à esquerda
nos anteriores Orçamentos. É certo que o PS se levantou sempre ao lado da direita nas matérias estruturais em
que era necessário impor regras ao sistema financeiro e defender o trabalho.
O Sr. Porfírio Silva (PS): ⎯ Agora é que vamos ver quem se levanta ao lado da direita!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ Mas não é menos certo que existiu, até hoje, um campo de progressão à esquerda, na defesa de rendimentos do trabalho, do respeito pelas pensões e carreiras contributivas, do Estado
social, e orgulhamo-nos desse caminho.
Tragicamente, chegados à crise, o Governo deserta até desse estreito campo de entendimento.