29 DE OUTUBRO DE 2020
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números que o Ministro das Finanças confirmou no Parlamento, aí está a realidade difícil: há mesmo menos
médicos do que no início da pandemia. O que pergunto é como é que pode um Primeiro-Ministro que ignora a
realidade corrigir um problema que acha que não existe.
O Bloco apresenta solução: criar carreiras no SNS com exclusividade, salários decentes e condições
exigentes. Isso foi o que propuseram António Arnaut e João Semedo e consta da Lei de Bases da Saúde que
construímos, em conjunto, na passada Legislatura.
O Sr. Ascenso Simões (PS): ⎯ Não misturem as coisas!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ E não, Sr.ª Ministra Marta Temido, ninguém duvida aqui da sua dedicação no cumprimento das suas responsabilidades.
O Sr. Ascenso Simões (PS): ⎯ Que falta de juízo!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): ⎯ Mas a dedicação plena que está no programa eleitoral do PS e na Lei de Bases não é essa: é mesmo um regime de compensação aos profissionais, esse regime a que, agora, o Governo
se opõe.
Propõe-nos que aprovemos um Orçamento de promessas, com muitos concursos que, sabe, vão ficar meio
vazios. Propõe-nos remendos, quando Portugal precisa de soluções.
Não trocamos soluções por anúncios.
Aplausos do BE.
Se insisto na questão do Serviço Nacional de Saúde é porque fora destas paredes há uma pandemia que
está a crescer. Para a vencermos, precisamos de profissionais, de hospitais e de centros de saúde.
Ninguém nega que Portugal terá de mobilizar toda a sua capacidade instalada na saúde, incluindo a privada
e social, para responder à crise — dissemo-lo desde o primeiro momento —, mas terá de fazê-lo com regras,
transparência e, sobretudo, planeamento, que garantam cuidados hoje e no futuro, para que o Serviço Nacional
de Saúde não acabe destruído.
O Sr. João Azevedo Castro (PS): — Parece o Chega!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Olhamos para o anúncio que a Ministra da Saúde fez hoje no debate: o Serviço Nacional de Saúde já tem autonomia para contratualizar com os privados.
O Sr. João Azevedo Castro (PS): — É mau demais!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Mas, então, porque não tem também autonomia para contratar os profissionais de que precisa para os seus quadros? Porque se resigna o Governo à rutura do Serviço Nacional
de Saúde?
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — O Governo vai adiando o mais que pode as contratações que acordámos ainda antes da pandemia — 4200 profissionais a cada ano —, condenando o Serviço Nacional de Saúde a
trabalhar com lugares de quadro vazios, enquanto lida com as necessárias baixas dos mais de 6000 profissionais
afetados com COVID, nesta crise.
Se o Governo quer desistir de ir buscar médicos ao privado e de fixar os que são formados no Serviço
Nacional de Saúde, não conte com a nossa anuência. Não aceitamos que se multipliquem os encerramentos de
serviços, quando são mais precisos.