29 DE OUTUBRO DE 2020
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Foi isso que o Governo não fez. Não fez o necessário esforço para fortalecer a nossa economia e as nossas
finanças públicas no período de crescimento económico que tivemos entre 2015 e 2019. Pior ainda: não lhe
bastando usufruir da política monetária do Banco Central Europeu, que provocou uma grande baixa da fatura
de juros da dívida pública e a subida dos dividendos do Banco de Portugal, o Governo resolveu aumentar a
carga fiscal e baixar o investimento público para, assim, poder subir ainda mais os seus gastos.
O valor da dívida pública baixou relativamente ao Produto, mas subiu claramente em valor absoluto.
Desperdiçámos um ciclo favorável não só para tentar trazê-la para patamares mais razoáveis, como,
principalmente, para dinamizar a nossa economia do ponto de vista estrutural.
Estes objetivos não foram prosseguidos e, por isso, a margem de manobra de que o País hoje dispõe para
enfrentar a crise económica e social é bem menor do que aquela que, em boa verdade, poderia ser.
Em paralelo, deixaram-se degradar os serviços públicos, designadamente a nível do Serviço Nacional de
Saúde, que foi colecionando disfunções, cujo início remonta ao momento em que, de forma irresponsável, o
Governo decidiu alterar o horário de trabalho da função pública sem cuidar de preparar o sistema para tal.
Aplausos do PSD.
Hoje, temos um SNS com graves falhas na sua capacidade de resposta e com maiores dificuldades para
responder à pandemia.
Podemos e devemos ter compreensão para muita coisa, mas não é possível tê-la para tudo. A desorientação,
a falta de diretrizes, as contradições permanentes ou a falta de recursos humanos não são falhas que se possam
aceitar numa área tão sensível para a vida de todos nós. Também não é minimamente aceitável os centros de
saúde não receberem as pessoas e, em muitas circunstâncias, nem sequer lhes atenderem o telefone.
Faltará planeamento, mas falta, acima de tudo, consideração e respeito, designadamente por quem não tem
outros meios para se tratar que não seja o serviço público de saúde.
Em março e em abril, quase tudo se poderia desculpar pela incerteza e pelo nível de desconhecimento de
todos nós para responder com eficácia e segurança ao início da pandemia. Mas, a partir daí, a sociedade foi
adquirindo conhecimentos e o Governo foi começando a ter meios para preparar melhor o combate a uma
segunda vaga, que, com alta probabilidade, se desenhava no nosso horizonte. Eu próprio tive oportunidade de,
em devido tempo, questionar aqui, diretamente, o Sr. Primeiro-Ministro sobre esta questão.
Infelizmente, constatamos que essa preparação não foi devidamente programada durante os meses de verão
e, por isso, o País tem hoje mais dificuldades no combate à COVID-19 do que aquelas que, por natureza, sempre
teria.
É justo dizer-se que nunca seria possível um País estar totalmente preparado, mas também é justo afirmar-
se que era obrigação de quem nos governa fazer um adequado planeamento da melhor resposta possível à
segunda vaga.
Aplausos do PSD.
Não é fácil entender que coerência pode existir, por exemplo, entre a realização da Festa do Avante! ou
milhares de pessoas lado a lado num autódromo e as medidas restritivas que, em paralelo, temos de impor à
vida quotidiana dos portugueses.
Aplausos do PSD.
Acresce que, pela incerteza e pela angústia que geram, as falhas na resposta sanitária em nada ajudam à
recuperação económica, marcada pela imperiosa necessidade de combater o desemprego e de reforçar o nosso
tecido empresarial.
Este objetivo estratégico implica ter, necessariamente, uma política económica e orçamental de apoio às
empresas, que são as que, em primeira linha, podem combater a elevada taxa de desemprego com que nos
debatemos.
Por influência ideológica da esquerda comunista, o Governo optou por apresentar uma proposta de
Orçamento que esquece a importância determinante das empresas no relançamento da nossa economia.