4 DE MARÇO DE 2021
39
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, começo mesmo
por responder à sua pergunta, sobre o que significa o adjetivo «assertivo», com um exemplo prático: já sob a
Presidência portuguesa, no mês passado, concluímos a aprovação de um instrumento — cujo nome é muito
difícil de traduzir em português —, o Enforcement, portanto, pôr em vigor, pôr em execução. É um instrumento
comercial de que a União Europeia se dota exatamente para exercer os seus direitos quando a outra parte num
acordo bilateral se recusa a seguir para a arbitragem ou, no caso de um acordo multilateral, a arbitragem não
se fazer por paralisia da instância de recurso da OMC.
É apenas um exemplo, podia dar outros. A designação antepassada do Chief Trade Enforcement Officer, por
parte da União Europeia, inscreve-se na mesma linha.
O objetivo é ser mais firme na defesa dos nossos interesses, porque um dos nossos interesses também é o
de controlar melhor as cadeias de produção e de abastecimento de bens que são críticos para nós.
Há duas maneiras de fazer isso: uma maneira é pensarmos que ainda estamos no século XVII e que lidamos
com as correntes mercantilistas; a outra maneira é percebermos que estamos no século XXI e que a União
Europeia é o primeiro parceiro comercial mundial em matéria de bens, é o primeiro em matéria de serviços e é
o primeiro investidor mundial.
Portanto, autonomia, sim, mas ela tem de ser aberta pela diversificação das fontes de fornecimento. É nesse
âmbito que entra a necessidade evidente, para a Presidência portuguesa, de concluir os processos negociais
que estão em curso, quer com o Mercosul, quer com o México, e acelerar com o Chile, com a Nova Zelândia e
com a Austrália.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Oliveira, do Grupo Parlamentar
do PS, para colocar questões ao Sr. Ministro.
O Sr. Francisco Pereira Oliveira (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Sr.as Secretárias de Estado, Srs.
Secretários de Estado, vou ser muito breve.
Trata-se de uma situação preocupante que tem a ver com as questões dos países do sul, nomeadamente do
Norte de África, incluindo o Magrebe. Sabemos das dificuldades económicas desses países, que foram
agravadas pela pandemia, sendo que a situação de muitos cidadãos destes países é bastante difícil. Se na
Europa se enfrenta uma crise tremenda, nestes países, então, a crise é bastante mais dramática.
Um dos setores que mais tem sofrido com esta pandemia — e o Sr. Ministro há pouco referiu-o — é o do
turismo, que é forte nessa zona, situação que tem atirado para o desemprego muitos cidadãos.
Tudo isto para dizer que as questões referentes às migrações agravar-se-ão em virtude da necessidade de
essas pessoas procurarem melhores condições de vida noutros países, nomeadamente na Europa.
No verão, é evidente o aumento das migrações com origem nesses países do Norte de África e a questão é
se irão agudizar-se os problemas humanitários já existentes, havendo tendência de muitos países limitarem a
entrada dos migrantes.
Neste sentido, a questão que lhe coloco é a de saber que caminhos irá a Presidência portuguesa do Conselho
da União Europeia seguir no sentido de obstar ao agravamento das questões humanitárias que poderão ocorrer.
Sr. Ministro, tinha mais outra questão, mas deixo-a para o meu colega colocar depois.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, tem toda a razão.
Por isso mesmo, uma das inovações da Presidência portuguesa é convocar uma reunião conjunta de Ministros
da Administração Interna e Ministros dos Negócios Estrangeiros para endereçar e enfrentar a questão da
dimensão externa das migrações. A mesma realizar-se-á no próximo dia 15 de março e eu terei todo o gosto
em reportar os seus resultados à Assembleia.
Aplausos do PS.