4 DE MARÇO DE 2021
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Branca mantém a embaixada em Jerusalém e todo o apoio à potência ocupante, essa mesma potência
ocupante, Israel, mantém centenas de presos políticos palestinos. Ainda nesta semana condenou a mais dois
anos de prisão a deputada do parlamento palestiniano, Khalida Jarrar, e há um ensurdecedor silêncio da União
Europeia e também do Governo português a este respeito. Daí que tenhamos, forçosamente, de colocar a
questão neste debate.
Para terminar, Sr. Ministro, uma questão sobre o pacto de estabilidade e o anúncio recente da Comissão
Europeia de recomendar a continuidade da suspensão dessas regras no próximo ano, fazendo-as regressar no
ano seguinte, no ano 2023.
Ora, se manter a suspensão destas regras é uma opção que não surpreende ninguém, já a perspetiva do
regresso no final do ano desse brutal fator de constrangimento para a nossa recuperação, desenvolvimento e
soberania económica é um objetivo que não podemos deixar de repudiar.
Sr. Ministro, é uma evidência que os países não estão a recuperar e a responder à crise pandémica todos
ao mesmo tempo e da mesma forma. Nesse sentido, importa, naturalmente, assumir uma posição, quer por
parte do Estado português, quer por parte da Presidência portuguesa, que coloque, de facto, a necessidade de
não termos, mais uma vez, um espartilho ao nosso desenvolvimento e mesmo ao investimento que nos é
requerido para os próximos anos e sem o qual os próprios fundos da bazuca, que não era bazuca nenhuma,
acabam por não ser elegíveis ou acessíveis.
Portanto, esse investimento, esse desenvolvimento e essa soberania carecem, de facto, de um
questionamento frontal relativamente a estas regras quer do tratado orçamental, quer do pacto de estabilidade
e é sobre essa matéria que o questionamos.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, muito
obrigado pelas suas questões.
Começo, se me permite, pela última pergunta, dizendo-lhe que a Comissão Europeia propôs hoje que a
suspensão das cláusulas dos chamados critérios de Maastricht, que vigora em 2021, fosse prorrogada até 2022.
É uma excelente decisão, do nosso ponto de vista, é uma decisão oportuna, que nos dá tempo para ver como
é que vai evoluir a economia europeia, para ver como é que vai evoluir a situação sanitária que Europa enfrenta
e para ver como vão evoluir as contas públicas na Europa.
Evidentemente que temos compromissos comuns, porque fazemos parte de uma única zona monetária,
pertencemos à zona euro, portanto, há certas regras de disciplina orçamental que têm de ser comuns e é
evidente também que a regra n.º 1 da política orçamental é mesmo a natureza contracíclica dessa política.
Portanto, quando vivemos períodos de crise não podemos exigir à política orçamental que esteja em contraciclo
e esse é o erro capital dos programas de austeridade.
Vamos aguardar, temos tempo, damos a nós próprios mais uma moratória absolutamente essencial e que
nos permitirá preparar com cuidado e, certamente, com a colaboração da sua bancada o Orçamento do Estado
para 2022 de que a economia portuguesa necessita.
Se me permitir, passo agora à questão da autorização das vacinas, sobre a qual tenho sempre de fazer esta
chamada de atenção: quando dizemos que as instâncias europeias decidem não quer dizer que seja uma
realidade à qual sejamos exteriores. São instâncias em que nós próprios participamos. O facto de não ser o
Infarmed, o «Infarmed» espanhol, o «Infarmed» luxemburguês, o «Infarmed» italiano, o «Infarmed» lituano, o
«Infarmed» grego e o «Infarmed» checo que, um a um, averiguam a qualidade técnica das vacinas, fazem os
testes indispensáveis e decretam ou não a sua autorização, dá uma economia de escala, um ganho de tempo,
um ganho de eficácia brutal.
É por isso que a Agência Europeia de Medicamentos o faz, mas com a nossa participação, com o nosso
controlo, com o nosso engajamento, como diria um falante da variante brasileira, e não nas nossas costas,
contra nós ou contra os nossos interesses.
Portanto, tenha o Sr. Deputado a certeza de que os únicos critérios que valem na ponderação que faz a
Agência Europeia de Medicamentos seriam os únicos critérios que valeriam se a ponderação fosse feita pelo
Infarmed português, mas com perdas de eficiência, de tempo, de economia e de custos que me parecem
evidentes.