O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

I SÉRIE — NÚMERO 48

50

Mais recentemente, na floresta de Virunga, localizada na República Democrática do Congo e no Ruanda, a

recente morte de um embaixador italiano expôs a gravidade do que ali se passa: mais de 15 000 milícias

armadas terroristas atacaram e saquearam as aldeias da região, sequestraram ativistas de ONG (organizações

não governamentais) e turistas para pedir resgates e, mais grave ainda, mais uma vez, raptaram crianças,

violaram mulheres, sujeitando aldeias inteiras à devastação e à violência, bem como à escravidão.

Inclusivamente, colocaram punhais nas mãos dos meninos para torturarem os prisioneiros e, assim, serem

educados no terror. Há ainda relatos de que, em Virunga, estes grupos mataram elefantes, para colocar o seu

marfim no mercado negro, e gorilas, para vender a sua carne, o que também é contrário aos tratados em matéria

de proteção das espécies selvagens.

Contudo, apesar destes atos de terror que têm sido perpetrados em massa e que constituem crimes contra

a humanidade — e, aqui, não devemos ter medo das palavras —, a resposta da comunidade internacional tem

sido o silêncio.

Por isso, Sr. Ministro, quanto a Moçambique, este Parlamento, por proposta do PAN, já instou o Governo a

atuar, tendo feito uma recomendação recente.

Sabemos que uma das prioridades da Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia é

precisamente África. Por isso mesmo, Sr. Ministro, gostaríamos de lhe perguntar se Virunga e Cabo Delgado

também estão na sua lista de prioridades. Que medidas vai Portugal defender para que, precisamente quanto a

estes dois casos, se promova uma cultura de apoio humanitário nestas duas regiões?

A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios

Estrangeiros.

O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Inês de Sousa

Real, imagino que tenha guardado tempo para uma próxima pergunta, pelo que serei agora mais sintético do

que gostaria.

Tem a Sr.ª Deputada toda a razão em identificar problemas. Aliás, poderia dar-lhe outros exemplos. Não sou

muito sectário em utilizar conceitos que estão bem enraizados no direito internacional e até na consciência moral

da humanidade de forma demasiado lata, mas há um ponto muito importante, que é este: hoje, temos, em várias

regiões do mundo, ataques de redes terroristas que, aliás, habitualmente trabalham em articulação com redes

dos mais variados tráficos — de pessoas, de droga, de matérias preciosas, de minérios, de pirataria — e que

semeiam o terror, no sentido técnico e próprio da palavra, isto é, atacam preferentemente populações civis e

preferentemente mulheres e crianças e não respeitam nenhuma lei da guerra na sua ação. E nós temos de

responder, mas não podemos fazê-lo apenas numa dimensão securitária. O meu colega norte-americano acaba

de fazer um discurso exatamente no mesmo sentido, dizendo que não é só a intervenção militar que é necessária

para estabilizar regiões.

A União Europeia, na minha opinião, nesta como em várias outras áreas, vai bastante à frente, fazendo

sempre questão de dizer as coisas às pessoas com palavras tão difíceis que, às vezes, os nossos cidadãos não

conseguem compreender o que nós queremos dizer. É o caso, por exemplo, do triplo nexo, de que falamos no

nosso linguajar, mas que quem ouvir pensa: «de que é que estes estão a falar?». Estamos a falar de uma coisa

muitíssimo importante, que é a necessidade de agir, ao mesmo tempo, em três dimensões: numa dimensão de

ação humanitária, que é a política independente, imparcial, neutral em matéria de conflitos, seja da Cruz

Vermelha Internacional, do Crescente Vermelho, da União Europeia como tal, da Organização das Nações

Unidas, etc.; numa dimensão de apoio ao desenvolvimento, de projetos de desenvolvimento, intervenção

comunitária, trabalho com as comunidades, aposta na fortificação do tecido económico e social, aproveitamento

local dos recursos, formação, etc.; e numa dimensão securitária, que, muitas vezes, também é necessária, até

para que a ação de apoio ao desenvolvimento seja possível. E quando dizemos «triplo nexo», «nexo» é porque

há uma ligação entre as três áreas e «triplo» porque são três.

Mas é exatamente aquilo que a Sr.ª Deputada estava a dizer, e tem toda a razão no que disse.

Vamos, então, à pergunta difícil que a Sr.ª Deputada guardou para o fim.

Aplausos do PS.