4 DE MARÇO DE 2021
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O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — O Sr. Deputado sabe melhor do que União
Europeia que, de uma perspetiva europeia, os Estados Unidos são um País bastante protecionista. Agora, nós
já fizemos propostas concretas. A primeira, naquilo que em diplomacia se chama de medidas criadoras de
confiança, foi mesmo eliminarmos, reciprocamente, as medidas de retaliação, portanto as sanções, o
agravamento de tarifas que decidimos — os americanos contra nós — por causa da Airbus e — nós contra os
americanos — por causa da Boeing. Também algum movimento no sentido de esclarecer a conflitualidade que
exista a propósito do alumínio e do aço facilitaria esse clima de criação de confiança.
Mas não tenhamos dúvidas: há interesses divergentes, e aqui e ali contraditórios, em matéria comercial entre
os Estados Unidos e a Europa. Podemos tratar essas divergências como amigos, e é esse o nosso propósito e
também o da Administração Biden.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Sr. Ministro, peço-lhe que conclua.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr.ª Presidente, só para esclarecer, em relação
à questão sobre a PAC, não conheço essa revista e, enfim, a intriga na corte de Bruxelas também é grande.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não é intriga, Sr. Ministro!
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Mas acho que há uma grande injustiça, por
duas razões. Em primeiro lugar, porque a Sr. Ministra da Agricultura estava contaminada pela COVID-19 e
presidia, a partir de sua casa, a uma reunião informal dos Ministros da Agricultura. Portanto, se há pessoa que
não pode ser acusada de não assumir plenamente, às vezes em condições pessoalmente muito difíceis, as suas
responsabilidades com a Presidência é a minha colega Maria do Céu Antunes.
Em segundo lugar, porque a nossa ambição, com a condução política da Sr.ª Ministra da Agricultura, é
justamente a de concluir, durante a nossa Presidência, os três regulamentos, cuja aprovação significará uma
importantíssima reforma da PAC.
Mas o Sr. Deputado sabe, tão bem como eu, que há questões que são preparadas ao nível técnico, há
questões que são preparadas ao nível diplomático e há questões em que nós entramos que são de natureza
política.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Em nome do Grupo Parlamentar do PAN, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e demais
membros do Governo, um dos temas acerca dos quais gostaríamos de começar por questionar o Sr. Ministro
de alguma forma já aqui foi abordado hoje, ainda que não na sua plenitude e dimensão. Falo daquilo que são
crimes contra a humanidade, que têm vindo a ser perpetrados não só em Moçambique, mas também na
República Democrática do Congo, para além dos recentes episódios ocorridos na Nigéria.
Esta crise sanitária trouxe, de alguma forma, um silêncio ensurdecedor em torno deste tipo de crimes. A
comunidade internacional, acredito que com mais dificuldade, não se tem mobilizado como habitualmente para
contribuir para o restabelecimento da paz nestes países e, menos ainda, este contexto que vivemos fez
desaparecer estes próprios crimes.
Infelizmente, parece ser o caso do que se passa em Cabo Delgado, Moçambique, onde, desde há três anos,
forças terroristas têm plantado o medo e a violência, de que têm resultado milhares de mortes bárbaras, diversos
casos de tortura, mais de 300 000 deslocados, assim como outro tipo de atropelos às liberdades e garantias
individuais, a saber casamentos forçados, violação e escravidão de mulheres e crianças.
Sr. Ministro, recentemente, ocorreu um episódio na Nigéria em que mais de 300 meninas foram raptadas de
uma escola. Felizmente, já foram libertadas. Mas estes são casos que reiteradamente acontecem e para os
quais tem de haver uma resposta e uma mobilização.