13 DE MAIO DE 2021
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Portanto, aqui as duas questões que se colocam, muito simplesmente, são as seguintes: para lá de uma
solução de urgência que não pode ser a de armazenar os trabalhadores em contentores como se fossem
alfaias agrícolas, é preciso também travar o aumento das estufas, porque, neste momento, já é um problema
com que o País não pode lidar. Queremos continuar a vê-lo aumentar ou queremos resolver aquilo que
temos?
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.
A Sr.ª Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Ana Mendes Godinho): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Catarina Martins, antes de mais, queria dizer que esta tem
sido, aliás, uma prioridade e uma grande preocupação a nível de todo o Governo. Procurámos encontrar
formas de garantir a integração e o tratamento de continuidade dos trabalhadores, independentemente da
nacionalidade e de onde estejam, desde que garantindo o trabalho digno em Portugal.
Aliás, foi nesse sentido — como disse, e bem! — que foi aprovada a lei em 2016, com esta grande
preocupação de encontrar mecanismos de responsabilização de toda a cadeia de contratação para garantir
uma maior eficácia e também mais instrumentos de fiscalização.
Aproveito para partilhar aquela que tem sido a preocupação da Autoridade para as Condições do Trabalho
nos últimos anos, que é a de focar muita da sua atividade em torno dos fenómenos onde há mais risco de
trabalho pouco digno por parte dos trabalhadores. Dou-lhe o exemplo concreto do que tem sido feito em
algumas atividades como a da construção civil ou da agricultura, onde há muito recurso a trabalho migrante.
No caso da agricultura, nos últimos anos a ACT realizou cerca de 3600 visitas a explorações agrícolas e
levantou autos de contraordenação relativamente a 4800 infrações com um valor global de coimas de 2
milhões de euros. Isto sempre com esta grande preocupação — como disse, e bem — de procurar
responsabilizar toda a cadeia de contratação como forma de procurar responder a um fenómeno que sabemos
que não acontece só em Portugal, acontece em toda a Europa, e para o qual temos de procurar encontrar
formas eficazes de dissuasão e de responsabilização de toda a cadeia de contratação. É isso que temos feito.
Também sabemos, e penso que isso é do conhecimento de todos, muitas vezes, as dificuldades da própria
identificação destas situações. Posso partilhar com a Sr.ª Deputada e com os Srs. Deputados a minha
experiência como inspetora de trabalho que fui durante muitos anos. E, como inspetora de trabalho, muitas
situações vivi em que os próprios trabalhadores não queriam ser identificados, porque não queriam correr o
risco de poder, por exemplo, não ver a sua situação depois enquadrada ou regularizada, porque alguns deles
não tinham a sua situação regularizada em Portugal.
Por isso, o nosso trabalho e o nosso foco tem sido também o de garantir que as pessoas que estão em
Portugal, independentemente da sua nacionalidade, têm condições de reconhecimento de direitos iguais a
qualquer trabalhador.
Aplausos do PS.
Foi por isso, aliás, que logo uma das primeiras missões que assumi como Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social foi a de criar um mecanismo excecional para que todos os trabalhadores
estrangeiros em Portugal tivessem acesso ao sistema de proteção de segurança social, com o chamado, na
altura, «número de identificação de segurança social na hora», para garantir que tínhamos a capacidade de
estes trabalhadores terem a sua inscrição na segurança social e ficarem protegidos.
Ao abrigo deste regime, já temos, neste momento, 140 000 trabalhadores que foram abrangidos por este
mecanismo criado no início de 2020, mas que, sem este mecanismo excecionalmente criado, estariam fora do
sistema. Isso é ser hipócrita.
Aplausos do PS.