I SÉRIE — NÚMERO 64
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permitem dizê-lo assim, que essas mesmas regras vão integrar o POC (Programa da Orla Costeira) que está
em revisão para aquela área.
Por isso, repito, sendo aquele um perímetro de rega destinado àquele tipo de agricultura, há hoje um
conjunto de regras muito mais restritivas do que havia há dois anos.
Já sem estar a pensar em Odemira, queria acrescentar a esta questão uma outra que penso que a Sr.ª
Deputada já conhece. Havia uma enorme indefinição — e eu diria que isso era desde sempre — sobre quais
eram os projetos agrícolas que estavam, ou não, sujeitos a avaliação de impacte ambiental. E essa indefinição
resultava do seguinte: de uma maneira geral, a agricultura não tem nenhuma entidade licenciadora e, como
tal, não havia, objetivamente, avaliação de impacte ambiental nos projetos de maior dimensão.
Essa questão foi resolvida, há meia dúzia de meses, através de um despacho conjunto do nosso ministério
e do Ministério da Agricultura e, portanto, hoje está assegurado que todas as regras que aí constam em
termos de avaliação de impacte ambiental e que resultam, nomeadamente, de uma diretiva comunitária são
cumpridas em Portugal, o que não acontecia até há meia dúzia de meses.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Continua no uso da palavra, para fazer perguntas, a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Ministro do Ambiente, parece-nos manifestamente insuficiente essa visão.
Permita-me que lhe diga, Sr. Ministro, que somos, talvez, a última geração de eleitas e de eleitos, bem
como de governantes, que não só podem contribuir para mitigar as alterações climáticas, como também para
proteger o nosso País dos efeitos das mesmas, nomeadamente em relação à escassez de água e às ondas de
calor que vão afetar o nosso território. Sem instrumentos de gestão territorial adequados, dos quais o Sr.
Ministro não falou, ficaremos muito aquém deste desiderato.
Outro exemplo que poderíamos dar, e o qual não posso deixar de referir, prende-se com o plano para a
Quinta dos Ingleses, em Cascais. Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Ministro, já ouvimos o Sr. Presidente da Câmara
Municipal de Cascais dizer que, caso o Governo esteja na disposição de dialogar, estará disponível para
repensar e para travar este projeto.
Tendo em conta que o que acabou por acontecer foi ter sido remetida ao Governo a responsabilidade de
travar um projeto que é manifestamente nefasto para os interesses locais e para o interesse público, porque é
um dos últimos espaços verdes da orla costeira, impõe-se perceber se o Governo está, ou não, disponível
para intervir num projeto absolutamente devastador para os interesses da praia, dos cascalenses e da
proteção ambiental em Cascais.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes.
O Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática: — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, que fique muito claro que a responsabilidade é da câmara de Cascais. Que
fique absolutamente claro que só a câmara de Cascais pode aprovar o Plano de Pormenor que deseja e só ela
pode ser responsabilizada pela eventual perda de direitos que legitimamente ali foram ganhos com um
instrumento de gestão territorial que é da exclusiva responsabilidade da Câmara.
Está o Governo disponível para se sentar com a autarquia e ter essa conversa? Com certeza que está. O
Governo não está é disponível para pagar 0,01 € de indemnização por um instrumento de gestão territorial
cuja responsabilidade é, exclusivamente, municipal.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para continuar a fazer perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.