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II SÉRIE — NÚMERO 110

ção, os representantes do povo de Machio de Cima pediram a S. Ex.8 que a casa fosse cedida à povoação para nela realizarem as suas festas, sessões de esclarecimento, reuniões de convívio, etc., para o que a povoação se encarregaria de efectuar as obras que fossem necessárias.

O Sr. Governador Civil achou muito bem a ideie de aquele povo proceder à restauração da casa, evitando a sua ruína total, para o que disse ser necessário lá ficar um gabinete destinado à Junta de Freguesia, sugerindo que a povoação, para o efeito, fizesse tal petição à Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, através da Junta de Freguesia.

Em Outubro de 1975, a povoação de Machio de Cima, reunida em plenário e através da via legal, Junta de Freguesia, solicitou à Câmara que a casa em questão lhe fosse cedida para o efeito atras referido, conforme documento n.° 1, que se junta.

Em Dezembro de 1975, a Câmara, em sessão de 4 do mesmo mês, aprova por unanimidade a petição do povo de Machio de Cima e, embora não possa juridicamente dar-lhe por meio de documento a casa, dá, no entanto, plenos poderes à Junta de Freguesia para o efeito, conforme documento n.° 2, que se junta.

A Junta de Freguesia, de posse do documento recebido da Câmara, actua em conformidade, do qual lavra a acta respectiva e entrega a casa à povoação, para que esta proceda à sua restauração.

A povoação toma então conta da casa e, dado que no momento não tinha dinheiro, começa a desencadear todas as acções necessárias no sentido de angariar fundos para fazer face à sua restauração, satisfazendo assim uma velha aspiração de todos os naturais da terra.

Algum tempo depois começam as obras, que apenas e por uma questão monetária tiveram de ser divididas em três fases:

Na primeira procedeu-se ,à estrutura do rés-do--chão;

A segunda compreendeu a colocação e acabamento de mais um piso na referida casa, onde também foi construído um pequeno palco, bem como a colocação do telhado;

A terceira e última foi o acabamento do rés-do-•chão, onde foi feita uma lareira, a construção de 2 casas de banho e um gabinete para posto médico.

Com tudo isto gastaram-se até hoje cerca de 3200 contos, dos quais não recebemos um centavo de auxílio, não obstante as dêmarches efectuadas nesse sentido.

Das entidades a quem pedimos auxílio destacamos a Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, a quem apresentámos o problema várias vezes e que apenas nos concedeu a ligação da água,

A Sub-Região Agrária do Distrito de Coimbra, por indicação do Sr. Presidente da Câmara, que não deu nada.

A Fundação Calouste Gunbenkian, que igualmente nada deu.

Ao longo de todos estes anos fizemos outras tentativas a pedir auxílio, mas infelizmente todas em vão.

Equipámos a casa com aparelhagem sonora, arca frigorífica, louças e utensílios para cerca de 250 pessoas, etc., e tudo o que se lá gastou, e que já soma

alguns milhares de contos, foram o sacrifício e suor de todos os naturais da povoação e alguns amigos, sem que Câmara e Junta tenham contribuído com qualquer donativo, à excepção da já referida ligação de água.

Por meio de subscrição entre os naturais da terra e alguns amigos, adquirimos também uma televisão a cores, que estava instalada no rés-do-chão, na parede onde foi aberta a porta. Era um dos principais atractivos para a reunião e convívio das pessoas da terra, onde passavam todos os dias os seus serões ao calor da lareira, vendo-se agora privados desse meio de conforto.

Logo que as obras se concluíram, pusemos à disposição da Junta e qualquer pessoa da freguesia as instalações da casa para o que fosse necessário, utilizando os utentes, como é óbvio, as portas que a casa possui.

Igualmente pusemos à disposição da Câmara as instalações da casa e o referido gabinete destinado ao posto médico, bastando para isso ser devidamente equipado.

Apesar das facilidades que demos à Junta e Câmara ao pôr as instalações da casa à sua disposição, nunca estes procuraram oficialmente dialogar com a povoação ou seus representantes, no sentido de se modificar qualquer coisa que não estivesse bem e que por isso carecesse de correcção.

Depois de termos feito o historial da casa, é com grande surpresa e alguma apreensão que o povo de Machio de Cima, na manhã do dia 14 de Março de 1984, acorda com o toque do sino a rebate, como se estivésemos em período de incêndios na floresta.

Afinal os incêndios eram outros. O presidente da Junta, acompanhado de três operários da Câmara, davam entrada no gabinete da Junta e começam a destruir a parede que o separa da Casa do Povo, onde mais tarde haveriam de colocar uma porta, violando assim um direito que tinha sido adquirido pela povoação.

O humilde povo de Machio de Cima que na ocasião ali estava, cerca de 30 pessoas, e na sua maioria já na casa dos 70 e 80 anos, nada pôde fazer, já que o presidente da Junta não quer nem aceita diálogo, como ainda ameaça com prisão algum mais aventureiro.

Chegada a noite e com a saída dos violadores, o pequeno e reduzido povo reúne-se, reage, e são a» mulheres que vão buscar cimento e tijolos e procedem ao tapamento do buraco.

No dia seguinte, 15 de Março de 1984, pela manhã, surgiram de novo o presidente da Junta e operários da Câmara, acompanhados pela maioria dos restantes elementos da Junta e a quase totalidade dos homens e mulheres exsitentes nas povoações de Machio de Baixo e Vale de Pereiras. Da povoação de Maria Gomes apenas estavam 2 pessoas, que por sinal também fazem parte da Junta.

Procederam de novo à destruição da parede, onde colocaram uma porta, violaram ainda a porta da entrada principal da Casa do Povo, substituindo-lhes a fechadura e levando as chaves. Retiraram da parede exterior da casa a placa com os dizeres; «Casa do Povo da Povoação de Machio de Cima», queimaram toda a lenha existente no interior da casa, tendo finalmente constituído um banquete, festejando possivelmente o belo acto que acabavam de praticar.