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II SÉRIE-A — NÚMERO 53
O povo de Moreira soube, também ele, afirmar-se claramente ao longo dos séculos. Ubere região agrícola votada, no passado, em especial, à cultura dos cereais, do linho e dos produtos hortícolas, Moreira beneficiou de uma significativa classe de lavradores, altaneiros nas suas casas sobradadas, de entrada em arco abatido, ou em ogiva perfeita, ou em largo portal emoldurado; casas fartas de pão e de bens, onde a lavoura, que ao domingo concorria no adro da igreja ou se passeava altaneira nas festas de ano, ricamente vestida e «ourada», assumia o papel de aristocracia rural, praticando o morgadio quase até aos nossos dias.
Mas Moreira ligava-se pela proximidade ao Porto. Duas escassas léguas separavam a terra do centro do velho burgo, ainda quase todo, por então, escondido atrás das muralhas protectoras.
E uma classe de artistas começou a criar-se na terra. Os pedreiros e os canteiros, erguendo paredes e afeiçoando e figurando e filigranando a pedra. Os carpinteiros e os entalhadores, completando e cobrindo edifícios e tratando com as mãos de génio tantos tectos, tantas portas e tantas janelas, sempre figuradas. Os trolhas e os estucadores rebocando paredes e dando aos interiuies a beleza dos palácios enobrecidos. Os montantes e os serradores também, arrancando os blocos de pedra e cortando, tábua a tábua, os troncos duros duma floresta farta e densa que Moreira continha ainda dentro de si, feita de pinheiros mansos ou bravos, de carvalhos e de castanheiros.
E Moreira era ainda uma terra de ferreiros e ali havia ainda ferradores, trabalhando, uns e outros, para a lavoura, sempre activa e exigente, e para os carreteiros passantes que transitavam de norte a sul e de sul a norte, estradas fora, do Porto e para o Porto.
5 — Nos anos finais do século passado Moreira ligava--se ainda mais à vizinha cidade do Porto, por então transbordando já alguns quilómetros para norte da velha muralha, e englobando até grandes pedaços da velha Maia.
Eram os anos da reconstrução da estrada do Porto, primeiro até Viana, e depois até Valença. Eram os anos ainda e também da nova linha férrea que do Porto levava às Póvoa de Varzim, e tempos depois a Vila Nova de Famalicão.
Mas pelos anos 40 do nosso século nascia o Aeroporto de Pedras Rubras, nascia a estrada outrora designada de distrital, que de Matosinhos levava até Ermesinde; e logo depois uma òu outra pequena unidade fabril ligada à transformação dos têxteis por ali se vinha sediando, aproveitando a mão de obra existente, a localização estratégica cada vez mais excepcional e as ligações, crescentemente fáceis, a todas as periferias, com vantagem especial para aquelas que levavam e traziam da cidade do Porto.
Entretanto, nas últimas duas décadas, a situação global sumariamente descrita continuou a evoluir. As vias de comunicação modernizaram-se. Foi a designada «via norte» — estrada nacional n.° 13 — pondo em contacto, em «via rápida», Moreira com o Porto, para sul, e com a Póvoa de Varzim e mais além, para norte. Foi a estrada nacional n.° 107, unindo Moreira ao porto de Leixões, a Matosinhos e ao Porto também, e unindo Moreira à cidade da Maia.
Está agora a ser aceleradamente realizada, em termos de auto-estrada, a variante à estrada nacional n.° 107 —o itinerário complementar n.° 24 —, com dois nós estabelecidos adentro do território de Moreira, um que a articulará com o Aeroporto, outro que a ligará à estrada nacional n.° 13.
O caminho de ferro — embora com os grandes projectos planificados para serem executados apenas nos próximos cinco anos, com a sua transformação, ao que se sabe, em «metropolitano» de superfície — modernizou-se também, como se transformaram ainda as duas estações ferroviárias implementadas em Moreira: Pedras Rubras e Cresüns.
O município rasgou novas vias que articularam as várias áreas, levou a cabo a construção de diversos equipamentos sociais e urbanos, e concretizou, quase integralmente, na área de Moreira o maior parque industrial do País, com uma área de cerca de 5 km2 e que constitui de per si, em termos de investimento — e talvez esses termos não sejam os únicos —, o maior investimento realizado em Portugal, nos últimos 15 anos, pelo poder local.
Toda esta conjuntura de acções e de realizações fez de Moreira uma terra de grande e expressivo progresso económico e social.
Foi o desenvolvimento industria) que eclodiu e que faz com que Moreira conte hoje cerca de 300 unidades fabris, algumas das quais de significação nacional. Foi o desenvolvimento urbano que criou modernas áreas urbanizadas que não cessam de aumentar. Foi o desenvolvimento comercial que foi correspondendo na sua expressão e no seu progresso às solicitações da população sempre crescente e sempre acrescentadas. Foi o próprio desenvolvimento da agricultura que, na maior parte dos casos, se reconverteu, se modernizou e se especializou.
Todo este desenvolvimento, acentue-se, vem sendo feito numa criteriosa e cuidada ocupação do solo, atendendo a um racional ordenamento do território, sem qualquer desregramento visível, valorizado ainda, além de quanto foi referido, pelas excelentes condições topográficas do próprio terreno.
6 — A população actual de Moreira ronda os 11 000 habitantes, avaliados sensivelmente, e com base no seu número de cidadãos eleitores oficialmente inscritos, que é de 6824. Este número vai crescer com sensível significado nos próximos anos. Vai crescer ordenadamente, regrada-mente, planificadamente. Vai crescer com os apoios de todo o género que ali se vão implantando, em correspondência às necessidades e às exigências da população.
Numa referência especiosa a esses equipamentos colectivos aludir-se-á antes de mais aos equipamentos de educação existentes: a Escola Preparatória e Secundária, cinco escolas do ensino básico (1." e 2* fases), contando no seu total 16 salas de aula. Depois os equipamentos de saúde: a unidade de saúde dependente da Administração Regional de Saúde do Porto, ora em fase de mudança para novas instalações, e uma farmácia, além de vários consultórios médicos. Depois os transportes: a linha de caminho de ferro Porto-Póvoa de Varzim, que Yh&V& estações de Pedras Rubras e de Crestins, três carreiras diversas do Serviço de Transportes Colectivos do Porto, várias carreiras de transportadores privados e vários transportes ligeiros de passageiros. Depois as comunicações: duas estações dos CTT. Depois os equipamentos de segurança: a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Moreira-Maia, que é mesmo a única instituição do seu género a nível de todo o concelho. Depois os equipamentos de serviços: duas agências bancárias. Depois o abastecimento público, para além do activo, diversificado e abastecido comércio a que se fez alusão: o mercado-féira de Pedras Rubras, a funcionar semanalmente. Depois os equipamentos associativos: propriedade das cerca de duas dezenas de colectivirjaies, «k-