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3 DE DEZEMBRO DE 2024

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combustíveis fósseis, com predomínio do poliéster, representam atualmente (2023) 67 % do total do mercado

global das fibras e a sua preponderância, intimamente relacionada com o crescimento do mercado da fast

fashion, não pára de aumentar. O lugar ocupado pela lã neste mercado tem, por outro lado, decrescido de ano

para ano, representando em 2023 apenas 0,8 % do mercado global (1,06 milhões de toneladas de lã limpa em

2023 contra 1,34 milhões de toneladas em 2000).

Segundo a IWTO, 50 % do peso da lã é carbono orgânico puro. Além disso, as suas propriedades de

material de excelência pelo isolamento térmico, resistência e durabilidade explicam a importância histórica

desta fibra. O decréscimo do seu peso no mercado global e o crescimento explosivo da produção de fibras

sintéticas contrariam o imprescindível caminho a fazer rumo a uma maior sustentabilidade do sector têxtil.

Entre nós, e tal como se verifica em toda a Europa, a produção de lã, enfrenta enormes desafios. Estima-se

que até 60 % da lã produzida no continente europeu não entre na cadeia da produção têxtil, sendo

abandonada ou diretamente encaminhada para aterros sanitários. Para Portugal, dos cerca de 5,5 milhões de

toneladas de produção anual estimada, desconhece-se que percentagem chega efetivamente a ser

processada pela indústria. O que é certo é que vivemos uma conjuntura de acentuada desvalorização, que se

acentuou abruptamente com a interrupção das exportações de lã em bruto para a China a partir de 2021,

tendo os valores por kg pagos ao produtor descido nos últimos anos até aos 0,0 €/kg.

Contudo, entre nós, isso não se verifica: a produção de lã, enfrenta talvez o maior desafio de todos, uma

vez que a sua exploração sofreu um enorme revés, sobretudo por baixos preços de compra da matéria-prima

e falta de mão-de-obra e desde 2019, que o preço da lã em Portugal tem caído, passando de valores médios

de 0,90 €/kg para os atuais 0,0 €/kg.

Para os agricultores portugueses, a tosquia tornou-se um problema devido ao custo da operação e à falta

de mão-de-obra especializada (1,8 a 2,3 €/ovelha, dependendo da dimensão do rebanho e da localização

geográfica), à logística necessária para armazenar a lã, já que não há compradores. A lã deixou de ser uma

fonte de rendimento para se tornar um resíduo incómodo e caro. Para a esmagadora maioria dos produtores a

lã gera prejuízo, sendo comum o seu abandono nos campos por falta de comprador. Esta situação é

particularmente gravosa no caso de várias das nossas raças autóctones mais ameaçadas, cuja sobrevivência

assenta na perseverança de criadores com rebanhos de pequena dimensão, localizados em regiões

periféricas relativamente aos centros de transformação laneira, e para os quais a possibilidade de venda da lã

a um preço justo constitui um incentivo ao não abandono da atividade.

A impossibilidade de escoar esta matéria-prima por valores minimamente atrativos é parte de um círculo

vicioso que urge interromper, que pode ser resumido da seguinte forma: (i) a lã desvaloriza e gera prejuízo; (ii)

os criadores não investem na qualidade da lã; (iii) a lã perde qualidades; (iv) a lã desvaloriza e gera prejuízo.

Em 2017 foi criado o Centro de Competências para a Lã, que tem um vasto conjunto de objetivos como a

promoção da competitividade da fileira da lã, a promoção do aumento de produção de lã e criação de produtos

transformados com maior valor acrescentado, ou ainda, entre outros, contribuir ativamente para a definição de

uma agenda de investigação aplicada à fileira da lã. Contudo por enquanto, não se conhecem resultados dos

trabalhos desenvolvidos.

Nos últimos anos, algumas associações de produtores com maior envergadura (ACOS, ANCORME e

OVIBEIRA) têm investido na procura de soluções para o problema da lã através da realização de contrastes

lanares (que permitem a obtenção de informação acerca da qualidade das lãs), prestação de serviços de

tosquia aos seus associados (através da contratação de tosquiadores especializados de origem estrangeira) e

concentração de lãs nas suas instalações. Estas iniciativas, que são a base indispensável do trabalho por

fazer de valorização das lãs nacionais, permitem o escoamento de alguma matéria-prima para sectores têxteis

de nicho, mas não são ainda suficientes para compensar a maioria dos criadores.

Não existe no nosso País qualquer tipo de certificação que permita disponibilizar, aos operadores têxteis,

lãs inteiramente rastreáveis e garantidamente de origem nacional. No entanto, há indicadores que mostram

uma crescente procura por parte do sector da moda e do design por lãs certificadas, tanto ao nível do bem-

estar animal como da origem geográfica ou do modo de produção. As lãs certificadas são, aliás, as únicas

que, a nível internacional, têm registado um aumento na procura, em contraciclo com o panorama geral

exposto acima. Temos empresas portuguesas de nicho com exposição no estrangeiro a valorizar os seus

produtos com base na origem das lãs que usam (burel factory, rosa pomar, etc.). No entanto, a inexistência de

certificações, além de desresponsabilizar a cadeia de produção, afasta clientes internacionais de vulto, que