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II SÉRIE-B — NÚMERO 10

situação de doente, ser despedido sem qualquer espécie de explicação.

— Por que insiste em pedir justiça para o seu caso? Acha que a comunidade deve ter conhecimento desta situação?

— Primeiro porque é uma situação de manifesta injustiça. Segundo porque foi usada a mitomania por figura grada denuo do Palácio das Necessidades e ainda porque não encontra justificação dentro das fronteiras de um país democrático e pertencente à Comunidade Económica Europeia e muito menos num país onde se vive num Estado de direito.

Deve ser informada, sim. E deve tomar conhecimento

que os serviços que estavam sob a minha responsabilidade — registo criminal, cartas de condução, bilhetes de identidade, casamentos, óbitos, etc. — chegaram a estar quatro e cinco meses por assinar, quando por lei alguns desses actos terão de ser remetidos à entidade competente no prazo de IS dias. Posso prová-lo, e sobretudo às pessoas lesadas, que a culpa não era, nem nunca foi, do Joaquim Madeira, mas sim do Sr. Cônsul. Existiram casos de certa responsabilidade, mas nada fazia desmotivar o Dr. Rocha Fontes. E tudo isto eu denunciei aos Srs. Secretários de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Dr. José Manuel Durão Barroso e Dr. Manuel Filipe Correia de Jesus, respectivamente.

— O arrastar sem solução deste seu caso tem deteriorado nos últimos dias o seu estado de saúde?

— E dc que maneira! Toda esta situação afectou-me grave e irremediavelmente o meu estado de saúde, que, por motivos de ordem cardiovascular, me vi obrigado a ser submetido a cuidados médicos para instalação de um pacemaker.

— Há implicações políticas no caso, sabendo-se que Joaquim Madeira é um socialista militante e um dos dinamizadores dos núcleos da Nova Inglaterra?

— Boa e até pertinente pergunta. Também fui presidente da Associação Desportiva Juvenil, presidente da Comissão de Arbitragem da LASA e até foi treinador de futebol, graciosamente. E se não fui presidente do Cranston Portuguese Club foi porque o Sr. Cônsul, Dr. Rocha Fontes, o impediu, dizendo que «são numerosas as oportunidades dc conflito entre associações de emigrantes e entre estas e o Consulado. E um funcionário não pode estar envolvido nestas oportunidades de conflito nem naquelas que surjam em outras associações de emigrantes». Também sou ribatejano, do Sporting e sou laico. Contudo, penso que essa pergunta deveria ser dirigida aos dois últimos Srs. Cônsules, mas sobretudo ao Dr. João Luís Laranjeira de Abreu, e até mesmo ao Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, porque, como sabe, ele é natural da mesma ilha da pessoa que está a ocupar o lugar de chanceler do Consulado em Providence.

Perguntas e respostas não publicadas:

— Joaquim Madeira «era um funcionário exemplar» na opinião de Rocha Fontes. Que terá levado o antigo cônsul mudar tão bruscamente?

— Também o Dr. José Vilela e a Dr.' Anabela Cardoso se manifestaram dessa forma, como se poderá ler em vários documentos enviados para Washington e Palácio das Necessidades. Era pertinaz colocar o Sr. José Leonel Rodrigues Teixeira, que era secretário de 2.', a ocupar o lugar de chanceler. Pois, como sabe, o Dr. Rocha Fomes teve a sua recepção de casamento a bordo de um iate, logo, portanto, ele unha de usar o que o seu lugar lhe permitia com o fito óbvio para o efeito.

— Entretanto, Laranjeira de Abreu é nomeado novo cônsul em substituição de Rocha Fontes e no concernente ao seu caso você é despedido, «nos termos da lei local». Acha que Laranjeira de Abreu está a cumprir instruções recebidas ou apenas a tomar uma posição perante o seu caso, que se vem arrastando há muito? Que lhe diz esta atitude de L. Abreu?

— Causou-me admiração e, certamente, também vai causar à comunidade portuguesa c até aos próprios americanos. Ora, tendo eu sido contratado cm Lisboa pelo

Embaixador de Portugal em Ottawa, Canadá, e só entrei

ali com uma carta dizendo que eu era funcionário do Estado

Português e se de Ottawa vim para este Estado onde fui nomeado chanceler do Consulado de Portugal em Providence, pelo Diário da República, como é que, agora ao fim de quase 18 anos de carreira, me despedem com base na lei local?!

Continuando ainda a responder à sua pergunta, poderei dizer que, dada a maneira do seu procedimento, ele pretendia libertar a minha posição no Consulado, de qualquer forma. Os porquês, a curto prazo, no futuro, nos irá mostrar. E a confirmá-lo está a resposta que me deu em West Warwick que deixou os circundantes estupefactos. E também nada recomendável a maneira, para quem, como ele, está investido de funções de representante do Governo de Portugal, e muitíssimo menos ética aquela atitude que tomou perante o imigrante português Carlos Alberto Almeida, quando no dia 2 do mês de Novembro, a meu pedido, lhe fazia entrega do meu atestado médico.

Uma atitude de Laranjeira de Abreu

Carlos Alberto Almeida, antigo presidente do Club Juventude Lusitana, de Cumberland, procurou-nos para contar o episódio despido de civismo por parte do cônsul Laranjeira de Abreu, quando, em 2 do corrente e a solicitação do seu amigo Joaquim Madeira, se dirigiu ao Consulado de Portugal para fazer a entrega de uma carta:

Fui ao Consulado para falar com o vice-cônsul Rogério Medina, de quem sou amigo há anos, e consequentemente entregar-lhe uma carta dc Joaquim Madeira. Medina disse não poder tratar do assunto mas que me apresentaria ao cônsul, Laranjeira de Abreu, e que então eu dissesse que a minha pretensão era fazer a entrega da carta e obter dela uma cópia e o respectivo carimbo de entrada. Feitas as apresentações da praxe disse da minha presença ali c do pretendido, ao que Laranjeira de Abreu respondeu: «Não tenho nada que aceitar esta carta porque este senhor está despedido e não trabalha mais no Consulado.» E, perante a minha delicada insistência, o cônsul, num gesto rápido e brusco, arrancou-me a missiva da mão dando uma pequena volta, atirou-a para o caixote do lixo, que ficava mesmo ali.

Em termos delicados fiz entender-lhe que aquela sua atitude pouco cívica não se coadunava com a posição que ocupava de representante do Governo de Portugal nem tão-pouco era gesto digno de homem que se prezava.

Sem mais palavras, Laranjeira de Abreu foi ao cesto dos papéis, tirou de lá a carta e pediu-me para me retirar do Consulado.

Também sem esconder o meu desapontamento pela atitude impensada, brusca e desumana, abandonei o